A pandemia pode estar aliviando casos crônicos de depressão e ansiedade

A pandemia pode estar aliviando casos crônicos de depressão e ansiedade

De Jennifer Aniston a anônimos, muita gente vem sentido sua saúde mental melhorando durante a pandemia. Entenda o fenômeno.

Foto: Diana Simumpande/ Unsplash

O distanciamento social (e quarentena em vários outros países) que acontece atualmente como consequência da pandemia de coronavírus pode ter engatilhado uma série de quadros de depressão, ansiedade e até crises de pânico. Mas olha que interessante: segundo uma matéria do Daily Beast, um monte de gente que sofre de ansiedade e depressão tem sentido uma melhora substancial em sua saúde mental.

Tem o caso da Grace Weinstein, que tem crises de pânico frequentes, e que desde o início da pandemia não teve nenhum episódio. Ela conta que é como se tivesse condicionada para esta situação, e que tem se sentido super equilibrada com o passar dos dias.

Laura Bradley, a jornalista que assina a matéria, diz que está neste mesmo barco. Ela conta que chora de preocupação como tantos, que fica preocupada sim e que já sentiu muita raiva de declarações idiotas que ouviu por aí. Não é que ela está alheia à situação: é que ela simplesmente tem se levantado da cama todos os dias se sentindo mais bem disposta que o normal. "Os pensamentos intrusivos que ficam cercando meu cérebro desapareceram. Eu digo para mim mesma que eu estou saudável, e minha família também, e isso parece ser o suficiente. Meu humor está estável após anos variando entre ansiedade e depressão (acompanhada de pensamentos suicidas). "Me dei conta de que estou bem. Melhor do que estive nos últimos anos."

A Laura Bradley, então, foi conversar com uma psicóloga sobre o assunto, a Dra. Elizabeth Cohen (que é especialista em ansiedade). Ela afirmou que 20% de seus pacientes têm sentido seus sintomas muito mais leves nas últimas semanas. A mesma porcentagem, ela ressalva, também viu os sintomas piorarem. Ela explica que grande parte da ansiedade é a expectativa que se cria do desconhecido - aquela preocupação de que algo ruim vai acontecer. Com a pandemia, ela segue, "é como se muita gente tivesse dizendo que o pior já aconteceu. Então, a grosso modo, é como se você não tivesse neste estado de antecipação."

Outra coisa que pode estar ajudando estas pessoas que vêm sentindo seus sintomas muito mais leves - ou inexistentes -, segundo a Dra. Cohen, é que nestes casos crônicos de depressão e ansiedade, rola o que ela chama de disassociação, que é quando alguém se afasta de situações imediatas intencionalmente ou não. Como por exemplo estar totalmente focado no trabalho até a hora de chegar em casa, quando se "desaparece" da realidade no Instagram ou assistindo TV. "Isso não é bom porque você está perdendo uma parte enorme da sua vida. Mas agora... se você é expert em se disassociar da realidade, você vai estar em um estado melhor. Você tem, basicamente, uma caixa de ferramentas de como não lidar necessariamente o tempo todo com sentimentos assustadores."

Há casos de pessoas que vem sentindo também que é um alívio ver um monte de gente ao seu redor tendo a mesma experiência de vida que ela - seja vivenciando crises de depressão ou ansiedade. É como se você não se sentisse mais tão "diferente" dos outros, ou se você finalmente sentisse que os outros estão entendendo como você se sente o tempo todo.

Sabe quem também vem sentindo uma melhora em sua saúde mental? Jennifer Aniston. Esta semana, ela deu uma entrevista ao Jimmy Kimmel em que revelou sofrer de agorafobia (medo de sair de um lugar onde se sente seguro, resultando em crises de ansiedade severas), mas que a situação atual, para a sua saúde mental, tem sido ótima. "Claro, é um pesadelo, mas para mim, pessoalmente, não tem sido um desafio. O maior desafio é assistir ao noticiário e tentar digerir tudo o que está acontecendo", contou, afirmando que não teve mais crises desde o início da pandemia.

Há quem esteja se questionando se é o caso de se sentir culpado por, finalmente, estar se sentindo bem. Grace Weinstein já chegou à conclusão que não, porque a questão aqui não é se sentir feliz exatamente, e sim grato, pela primeira vez na vida.

Talvez, com tanta tragédia acontecendo, e uma pandemia que foge demais do nosso controle, esta seja a primeira vez que muita gente tenha chegado à conclusão de que é extremamente privilegiado. É como se o velho bordão "Saúde é o que interessa" finalmente tivesse entranhado na cabeça de algumas pessoas. Talvez estejamos, muitos de nós, sentindo essa gratidão tão ampla pela primeira vez na vida. É o que dizem: prioridades...

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