Um pouco de silêncio ao dia para se viver bem

Um pouco de silêncio ao dia para se viver bem

É hora de repensarmos o nosso estilo de vida e darmos valor a algumas horas de silêncio ao dia em prol da nossa saúde física e mental.

Vimos em um post aqui no blog na semana passada que estamos diminuindo as nossas horas de sono. E que isso não é exclusividade dos adultos que têm uma vida agitada, mas também das crianças.
Um dos motivos desse novo quadro é a quantidade de ruído que somos rodeados nas nossas 24 horas diárias. Até mesmo no momento de descanso, do sono, temos os ruídos de aviões, na madrugada os trens entram em circulação, as ruas são movimentadas, além de ar condicionado, elevador... É uma raridade se ter uns minutinhos de silêncio em uma grande cidade.

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O que o ruído constante nos causa

“A poluição sonora está relacionada com surdez, problemas de sono, doenças cardiovasculares e distúrbios digestivos. Sabe-se também que os jovens que vivem num ambiente ruidoso têm sua capacidade de memória e de aprendizagem alterada”, afirma Pablo Irimia, neurologista e membro da Sociedade Espanhola de Neurologia (SEN) em um artigo do El País.

Uma pesquisa conduzida na Universidade do Minho, em Portugal, por Bruno Mendes e Ligia Silva - publicada no Research Gate - trata do impacto do ruído na saúde e na qualidade de vida. "O ruído não só é responsável em parte por deficiências auditivas, mas, também pode afetar a circulação sanguínea. De fato, hipertensão, doenças coronárias do coração e acidentes vasculares cerebrais tem-se vindo a provar que estão relacionados com repetitivas exposições a níveis de ruído elevados. De acordo com a Agência Europeia do Ambiente (EEA), mais de 90.000 casos de hipertensão são causados pelo ruído ambiental anualmente. Além disso, em 2005, 61 estudos epidemiológicos estabeleceram relações objetivas e subjetivas entre o ruído dos transportes e os enfartes de miocárdio", informa o estudo. E a esse dado se soma o relatório de 2011 da OMS - Organização Mundial da Saúde, que traçou um paralelo entre o ruído excessivo e 3.000 mortes por doenças cardíacas na Europa Ocidental.

Ah, o silêncio

Qual é o lado positivo de termos alguns momentos de silêncio durante o dia? Para o neurologista Pablo Irimia, em artigo publicado pelo El País, o silêncio facilita o controle da pressão arterial e predispõe aos benefícios de uma vida reflexiva. “O pensamento profundo e meditado gera novas conexões entre os neurônios. Ou seja, uma vida intelectual ativa, que exige concentração e, portanto, silêncio, desempenha um papel protetor em distúrbios neuronais. Por exemplo, sabemos que um alto nível de escolaridade está associado a um menor risco de sofrer da doença de Alzheimer”, diz o neurologista, que aconselha uma rotina pouco barulhenta e pontuada por momentos de silêncio. “Não é preciso se isolar completamente. Basta viver uma vida normal, com especial atenção para a calma".

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O filme "Em busca do silêncio", (Namdev Bhau in search of silence), 2018, do diretor indiano Dar Gai, mostra exatamente esse momento de busca pela calma. É a história de um motorista de Mumbai que cansou do barulho, faz um voto de silêncio, para de falar e vai em uma viagem ao Vale do Silêncio.

Outro filme que mostra essa busca pela calma - e que coincidentemente tem o mesmo título - é o documentário "Em busca do silêncio" (In Pursuit of Silence), do diretor norte-americano Patrick Shen.
A produção é uma "reflexão sobre a nossa relação com o silêncio, o som e o impacto do ruído em nossas vidas. Iniciando com uma ode à composição inovadora de John Cage, 4`33``, o filme leva-nos a uma imersiva jornada cinematográfica ao redor do mundo - desde uma tradicional cerimônia do chá em Kyoto até as ruas da cidade mais barulhenta do planeta, Mumbai - e inspira-nos a experimentar o silêncio e a celebrar as maravilhas do nosso mundo", informa a sinopse.

https://vimeo.com/188269047

“O zen vai por aí. Sentir essa calma em todo o seu corpo e experimentá-la a cada dia”, explica o monge Roshi Gensho Hozumi, do templo Tekishinjuku no Japão no filme acima.

Som ou ruído?

“O som é um fenômeno físico que atinge o ouvido. Este o envia para o cérebro e o identifica. Quando se torna ruído? Quando se intromete naquilo que estou tentando fazer e assume a forma de som desagradável não desejado”, explica a doutora Arline Bronzaft, psicóloga ambiental, no documentário "In Pursuit of Silence".

Em um estudo sobre os os efeitos fisiológicos da música, o pesquisador Luciano Bernardi, médico responsável do departamento de cardiologia do hospital San Matteo, de Pavia, Itália, revelou, que a pesquisa mudou o foco acidentalmente. "Não pensamos nos efeitos do silêncio. Isso não era para ser estudado especificamente”.

Segundo o cardiologista italiano, durante quase todos os tipos de música, houve uma mudança fisiológica compatível com uma condição de excitação. Mas o mais surpreendente foi o que aconteceu quando houve pausas silenciosas - dois minutos de silêncio se mostraram muito mais relaxantes do que música pacífica ou um silêncio mais longo antes do início do experimento. Uma de suas principais descobertas - o silêncio é intensificado por contrastes - é apoiada pela pesquisa Neurological, em um estudo realizado por Michael Wehr em 2010.

Michael Wehr, do departamento de psicologia do Instituo de Neurociência da Universidade do Oregon, nos Estados Unidos, recomenda que para vivermos bem precisamos de duas horas diárias de silêncio. Segundo ele, dessa forma teremos um hipocampo satisfeito.

E você? Consegue equilibrar o dia com momentos de calma?

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