O que o shabat me ensinou sobre estar offline

O que o shabat me ensinou sobre estar offline

Já parou para pensar em como um detox digital de apenas um dia por semana pode te ajudar a pensar melhor? Mari Inbar conecta a ideia ao shabat no judaísmo.

Muito se fala hoje em dia sobre detox digital. Da mesma forma que somos totalmente obcecados pela vida online, parece que uma parte de todos nós sabe exatamente o mal que este estilo de vida traz.

Às vezes a gente tem essa experiência quando nosso celular fica sem internet, quando o modem de casa pifa, quando estamos em um lugar sem qualquer sinal ou wi-fi. Eu tive essa experiência quando passei pelo meu processo de conversão ao judaísmo.

Após muitos (e muitos!) meses estudando a torá com todas as suas leis e princípios, o último passo desta trajetória consistiu em como colocar tudo isso em prática na minha vida. Como eu não me converti ao judaísmo pela linha ortodoxa, eu tinha a opção de poder não seguir algumas daquelas regras que você deve conhecer: seguir uma dieta kosher (que inclui não comer carne de porco e vários outros animais e não misturar carne com leite) ou guardar o shabat.

Mas eu precisava ter uma justificativa muito boa para não fazê-lo. "É como você vai explicar porque você não aplica isso ao seu dia a dia que vai mostrar ao rabinato que você entende exatamente o que estudou", me disse, em tom sério, a mãe do meu rabino - que foi quem me acompanhou nesta parte final. Eu entendi perfeitamente: como eu assimilo o judaísmo na minha vida é tão importante quanto tudo o que estudei e sei de cor.

A resposta é um truque: não adianta você ler e reler tudo o que aprendeu, nem recorrer a orações ou desculpas do tipo "não existe um açougue que venda carne kosher perto de onde moro". Ou "sábado é o único dia que tenho para fazer todas as minhas coisas". Não é que você não vá aplicar certos preceitos. É como você vai aplicá-los.

O que eu fiz foi filtrar estas regras para conceitos atuais. No caso do shabat, a ideia por trás de um dia de descanso (com tantas regras de pode isso e não pode aquilo) é você se proporcionar um dia em família, ao lado das pessoas que importam para você, presente. Ou se dar um dia sozinho, lendo, relaxando. Ali na linha dura, ao pé da letra, você não pode ligar ou desligar nada, criar nada novo, carregar algo de um lugar para o outro... É uma lista imensa mesmo. E que pode intimidar. Mas, em seu núcleo, guardar o shabat é para ser um prazer, um dia para você estar presente na sua própria vida e em mais lugar nenhum.

Para mim, estar presente desta forma era ficar offline. E foi o que fiz, da primeira estrela no céu de sexta-feira à primeira estrela no céu de sábado (a duração de um shabat), por algumas semanas, para realmente viver esta sensação.

É engraçado, mas uma das primeiras coisas que você nota é como o dia dá para tanta coisa. Sem os olhos colados numa tela de celular, você tem tempo de sobra para todo o resto. Como bem disse um dos membros de nossa comunidade outro dia sobre como arrumar tempo para sua rotina de skincare: "Sabe este tempo de ficar rolando stories? Diminua!" Sobra tempo, gente, eu juro.

Estar offline por um dia, além de deixar meu dia mais produtivo, serviu como um bom reboot na minha cabeça e nas minhas ideias. Só quando a gente se dá um dia absolutamente livre assim que a gente percebe o quanto precisamos disso até para continuarmos criando, tendo ideias, produzindo.

Afastar-se das redes sociais por vontade própria, pelo período que for, ajuda a diminuir a ansiedade, ajuda a gente se cuidar. A fazer nossa rotina de skincare num sábado a tarde simplesmente porque estamos a fim. A sentar com os amigos para almoçar e realmente ouvir suas histórias e não entender aquilo como um castigo, e sim como uma experiência necessária para ativarmos outras partes do nosso cérebro.

Foi só quando fui desafiada a mostrar o quanto havia assimilado os preceitos do judaísmo na minha vida que vi o quanto vivemos dentro de uma bolha, com os olhos limitados ao que nossos gadgets têm a nos mostrar. 

Não me entenda errado: eu amo a internet. Eu adoro as redes sociais. Mas se em qualquer relacionamento na nossa vida a gente sabe que tem horas que dar um tempinho para nós mesmos é saudável, por que não fazemos isso com nossa vida online também?

Talvez refletir justamente sobre isso vai nos dar a resposta para começar a fazê-lo. E nem precisa ser shabat. ;)

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