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Desafio das olheiras no TikTok: naturalização ou padronização?

Álvaro Bigaton analisa a febre de criar olheiras com a maquiagem no Tiktok: é libertação ou reforça ainda mais padrões?

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Foto: Álvaro Bigaton

 

Se você se interessa por conteúdo de beleza no TikTok, muito provavelmente já se deparou com um movimento que se propõe a naturalizar e enfatizar as olheiras, tão comumente escondidas por corretivo. Eu me deparei com esses vídeos em diversos veículos, majoritariamente acompanhados por textos sobre autoaceitação e o fim do corretivo.

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Mas tratando-se de uma narrativa voltada à naturalização de olheiras protagonizada por meninas jovens que não possuem o que consideraríamos olheiras pigmentadas (e necessitam de fato do artifício da maquiagem pra atingir esse resultado), será que estamos diante de uma inovação ou uma padronização de algo que continua recebendo zero representação fora dessa tendência? Eu diria uma mistura dos dois.

De fato, é muito refrescante enxergar pessoas (por mais jovens que sejam) abandonando uma etapa corretiva da sua rotina de maquiagem a fim de exibir a verdade da sua pele, mas fiquei confuso quando vi a etapa corretiva ser substituída por uma etapa de contorno das olheiras. Algumas meninas até parecem já ter coberto suas olheiras previamente para então construir olheiras novas que atendam à demanda do desafio.

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A verdade é que olheiras não seguem um padrão fixo em todos os rostos. Existem fatores étnicos e genéticos que propiciam o surgimento de olheiras mais pigmentadas do que outras, enquanto pra outras pessoas o catalizador pode ser o cansaço. E quando vemos uma única referência de pigmentação abaixo dos olhos reproduzida centenas de vezes, a naturalização só existe pra ela: ela se torna o padrão pra quem deseja pular o corretivo (ou segui-lo com as olheiras “corretas”).

@sarathefreeelf

♬ Greek Tragedy (Oliver Nelson TikTok Remix) - The Wombats

Algumas pessoas também levantaram que os principais rostos por trás do movimento são meninas brancas, e que o contraste entre elas advogando pelas próprias olheiras enquanto garotas de outras etnias estão tentando esconder as delas, sob as mesmas hashtags, revela muito sobre privilégios raciais entre tendências de beleza.

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Isso tudo pra concluir que: sendo uma pessoa cuja pele tem uma propensão a acne, eu entendo completamente o valor da maquiagem e de filtros como uma forma de atenuar inseguranças, ou até mesmo da diversão por trás desses recursos. Ambos têm seu espaço no dia a dia, mas quando o assunto é pele, representatividade e a quebra de padrões, a verdadeira revolução está em representá-la como ela é, uma vez que só você pode faze-lo.

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