Pat McGrath: a partir desse ano, é maquiadora e Dama

Pat McGrath: a partir desse ano, é maquiadora e Dama

Ela é a primeira maquiadora da história a ganhar o título de Dama. E aqui você entende por quê.

Pat McGrath não é estranha a honras e prêmios: a maquiadora inglesa já ganhou o Prêmio Isabella Blow do The Fashion Awards, o Founder's Award do CFDA (Conselho dos Estilistas Norte-americanos), já foi apontada como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2018 pela revista Time e, em 2014, se tornou membro do império britânico, integrando a imponente sigla MBE a seu nome. Esse mesmo nome, porém, vai ficar ainda maior: em 2021, ela vai se tornar Dame Pat McGrath, MBE. Detalhe? Ela é a primeira maquiadora da história a receber tal título.

Prêmios e honrarias podem até oficializar o tamanho e importância da maquiadora/artista, mas eles apenas dão uma noção do que é essa lenda viva da história da moda e da beleza, que agora se torna Dama mas que há tempos é reverenciada como "mother".

Maquiagem de berço

Pat sempre conta que, quando criança, seu sonho era ser cantora de ópera, mas foi sua mãe, Jean McGrath, que abriu seus olhos e sua mente para a maquiagem. Jean, uma imigrante jamaicana, sempre foi aficcionada por maquiagem e toda sexta-feira seu programa era um só: ir às lojas de cosméticos com a filha Pat, então com seis anos, comprar novos cosméticos, frequentemente garantindo os tons mais escuros de base para criar a cor certa para sua pele negra.

Mas a visão que Jean tinha da beleza ia muito além de apenas cosméticos: depois de encher sacolas de maquiagens, as duas iam comprar tecidos, com Jean sempre ensinando Pat a "prestar atenção nas cores" e pensar no que poderia complementar ou refletir a beleza que ela iria fazer. "Foi ela que me introduziu nessa carreira. Ela fazia uma make completa todos os dias", relembrou Pat em uma de suas entrevistas à Vogue. "Ela era obcecada por maquiagem, e ficava na frente da TV para a gente adivinhar o que ela tinha feito de diferente nos olhos. Eu ficava mandando ela sair da frente, mas ela não saía enquanto eu não falasse. Juntas, analisávamos as maquiagens da Hollywood antiga, identificando o que havia inspirado os estilistas a cada nova temporada".

Não é à toa que Pat McGrath é uma verdadeira mestra de cores, texturas e propostas de maquiagem. Cílios de penas, bocas de cristais, têmporas de pétalas, lábios laranjas laqueados... Pense em alguma coisa bem absurda e tenha certeza: Pat já fez. Tudo isso veio dessa formação com sua mãe. Foi Jean que a ensinou a misturar pigmentos, criar cores únicas e usar o calor dos próprios dedos para a aplicação de cada cosmético sobre a pele (Pat até hoje diz que prefere aplicar maquiagem com os dedos ao invés de pincéis, e gosta de preparar a pele com água termal). "Minha mãe sempre fazia uma maquiagem completa, e entrava na banheira para ficar com aquele aspecto iluminado, quase molhado. Era outro nível, mas foi assim que fui colecionando minhas dicas de maquiagem, aos sete anos", conta Pat.

Assim como sua mãe, Pat não tem nenhuma vergonha de se declarar apaixonada por maquiagem: "Uso uma make muito natural, mas ela é uma mistura de cinco bases para fazer aquela pele perfeita, e meu batom pode ser uma mistura de três outros, então é uma espécie de obsessão mesmo", ela contou, rindo, em entrevista à Vogue britânica.

A dominação mundial

Com tanta bagagem e dominação tão ampla de técnicas de maquiagem, Pat nunca optava pelo básico em sua juventude. E foi justamente um desses looks avant-garde que abriram as portas para sua carreira! Esperando a banda Spandau Ballet do lado de fora de uma rádio britânica, sua make com batom gritante nos olhos, bochechas e lábios chamou atenção de uma apresentadora, que imediatamente a perguntou: "Você consegue fazer isso em mim"? Foi aí que Pat se tocou que maquiagem podia ser profissão.

Em seguida, Pat se apaixonou por Londres (ela é originalmente de Northampton), começou a frequentar festas, fazer contatos e maquiar a banda Soul II Soul. Daí foi um passo para ingressar na indústria da moda, assinando a beleza de capas de revistas com a ajuda de Edward Enninful - atual editor-chefe da Vogue britânica, e desde então seu melhor amigo.

"Sou igualmente obcecada pela beleza nua de Vermeer como sou pela beleza subversiva de Leigh Bowery e os Blitz Kids dos anos 80".

Pat McGrath

Hoje, Pat tem em seu currículo mais de 500 capas de revistas pelo mundo, já maquiou mais de 190 mil modelos, passou por mais de 3300 backstages de desfiles das semanas de moda internacional e ajudou a criar a linha de maquiagem de Giorgio Armani e Dolce & Gabbana, além de ter atuado como diretora criativa da Covergirl, além de ser, atualmente, editora de beleza interina da Vogue britânica.

A criação de um império de maquiagem

Mas com Pat, a impressão é de que tudo foi sempre só o começo: em 2015, ela lançou sua própria marca de maquiagem, a Pat McGrath Labs, que inicialmente seguia o formato de drops, com lançamentos pingados. O primeiro, o pigmento dourado Gold001 (que era sombra mas podia ser usado de tantas outras formas), se esgotou em seis minutos.

"Conversei com executivos de maquiagem sobre ter minha própria linha por 15 anos, e eles sempre diziam que ninguém me conhecia, e que ninguém queria usar na vida real o que eu fazia para as passarelas. Mas foi eu entrar no Instagram e a primeira coisa que comecei a ouvir foi milhares e milhares de pessoas dizendo que elas queriam sim", contou Pat em entrevista ao The Guardian. Que tolos: em 2018, com apenas três anos de existência, a Pat McGrath Labs foi avaliada em US$ 1 bilhão.

A própria Julia Petit, que já fez tantos manuais no Petiscos dedicados a um de seus maiores ídolos, nota: "O que eu mais gosto da Pat é que essas maquiagens artísticas dela de desfile eram sempre o impossível, sabe? Ela fazia desde coisas muito simples até coisas absolutamente impossíveis, e eu acho que o impossível que ela faz - como as mulheres com o rosto inteiro coberto de pedrarias ou com as folhas de ouro coladas - inspira muito. Essa coisa não estruturada, não ligada aos ideais da beleza clássica de querer estar bonita ou destacar partes do seu rosto, é muito libertadora. Ela te dá vontade de fazer tantas coisas diferentes, mesmo que de maneira simplificada, e isso é algo que sempre gostei nela".

Pat não se cansa de dizer que ao criar sua marca, seu objetivo sempre foi pregar a liberdade e o empoderamento: "Você pode fazer o que você quiser com a maquiagem, é uma expressão livre, então é incrível ver uma geração abraçando isso", ela contou, ao The Guardian.

"A Pat recuperou essa coisa que tinha se perdido na maquiagem nos últimos anos que é uma maquiagem artística mesmo. Quando ela fez a linha de maquiagem dela dava para sentir esse foco em maquiagem para artistas - que não precisam ser necessariamente profissionais, mas para pessoas que querem fazer uma maquiagem diferente, usar um produto incrível, fazer arte na maquiagem mesmo", comenta Julia. "Ela recuperou um conceito que começou com marcas de maquiagem há décadas, mas que foi se perdendo. Ela recuperou o valor da maquiagem artística, da expressão artística de você se maquiar como você quiser e usar materiais muito incríveis".

Além das maquiagens bem experimentais, foi Pat também a maior precursora dessa pele "glow", iluminada, que todo mundo tanto ama usar hoje. O "glow da Pat" é real, e nasceu lá nas capas da Vogue Italia em dobradinha com Steven Meisel e desfiles como os da Prada, que trouxeram de volta para toda uma nova geração de aficcionados pela maquiagem o truque do iluminador no "arco do cupido" logo acima da boca.

Mãe, rockstar da maquiagem, Dama

Assim como um rockstar, Pat tem causos famosos que a cercam, como o fato dela viajar com 87 malas de material (ela conta que nem tudo é maquiagem - há máscaras, retalhos, pedras, cristais...) e ter cerca de 370 metros quadrados reservados apenas para seu acervo.

A minha história favorita da Pat McGrath, claro, envolve John Galliano, com quem ela criou as belezas mais absurdas da moda: "John e eu brincávamos muito com maquiagem. Lembro-me de trazer uma garota para ele ver uma vez, e ela estava com provavelmente dez pares de cílios postiços, seis quilos de sombra e os maiores e mais brilhantes lábios cobertos com gloss. Eu trouxe ela para o estúdio para um teste de maquiagem, e o John vira e diz: 'Não estamos fazendo uma história na praia. Isso não é sobre um look natural'. Ele queria mais".

Foi Pat, também, que ensinou a algumas modelos negras a usar bases de dois tons para fazer a pele perfeita, como já revelou Naomi Campbell: "Não há um lugar que eu tenha visitado na África que não tenham me perguntado sobre a Pat, ou no Oriente Médio, em Doha, ou Dubai", contou Naomi à Elle.

"Quando comecei a trabalhar, não havia maquiadoras negras", relembrou a modelo Beverly Johnson em entrevista à CR Fashion Book: "Era um desafio estarmos no nosso melhor com maquiadores que não entendiam o tom da nossa pele, fotógrafos que nunca fotografaram mulheres negras e que não registravam tons escuros. No final do dia, a gente só queria que as pessoas nos vissem. Pat McGrath faz com que sejamos vistas. É algo que simplesmente nunca vimos antes".

"Ela é o retrato da nossa época como empresária, como marca, como artista, como o que a gente quer expressar com a maquiagem hoje em dia", finaliza Julia Petit.

Dama Pat McGrath, MBE. É... Faz sentido.

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