Redescobrindo o tempo de ter um hobbie

Redescobrindo o tempo de ter um hobbie

Uma pausa forçada pode ser o momento para olharmos para nós mesmos, para nos redescobrirmos e vermos que sim, mesmo no caos podemos nos reencontrar.

Sallve

Era uma vez uma menina que fotografava nuvens, poças d'água, gatos e cachorros. Mas principalmente nuvens. Cada formato de nuvem em que conseguia ver um objeto/animal, merecia um registro.

As nuvens não eram baixadas num computador e tampouco carregadas em outra nuvem de arquivos. Eram reveladas: em negativos e papel fotográfico. Era um luxo quando podia usar um rolo p&b.

Os cliques eram economizados. Não se podia fazer 100 fotos para depois escolher a melhor. Era uma. E aquela era a melhor.

A menina cresceu. E as suas máquinas fotográficas mudaram. A única coisa que não mudou com o passar do tempo foi o fato de ela sempre carregar uma câmera no bolso/bolsa. Desde aquela primeira que a sua vó a deu de presente, aos quatro ou cinco anos. Era uma tradição na família de fotógrafos. Se afiava o olhar.

Outro dia ela se deu conta de que o olhar estava perdendo o foco. Não era só a necessidade de um novo par de óculos. Era a necessidade de se dar mais tempo. De se permitir a olhar para as nuvens procurando um navio, ou um hipopótamo.

Essa menina, que cresceu, cresceu, cresceu, e que se deixou ser consumida pela frenesia da rotina, parou, há um mês. E se deu conta de que sim, esse vírus que assola o mundo nesse 2020 nos privou de tanto, mas está também nos ensinando que de vez em quando precisamos parar. Parar para sobreviver. Parar para nos redescobrir.

No meio de uma sensação de fim de mundo ela se deu conta de que tem o smartphone sempre lotado de fotos. Mas que não são mais aquelas suas fotos. Foi nessa pausa forçada que ela sentiu saudades de um pedaço de si mesma. E se deu conta de que qualquer frase de livro de autoajuda bem clichê cairia aqui como uma luva.

Porque essa menina, que cresceu, está agora com o nariz pra fora da janela, recomeçando a olhar o mundo, de dentro da sua casa. E aprendendo, que no meio de uma desgraça, a gente pode cultivar algo de bom. Retomar um hobbie que acabou esquecido no fundo de uma das nossas tantas gavetas internas pode ser uma boa forma de nos reencontrarmos outra vez. É a minha proposta à mim mesma, àquela menina que via o mundo com outros olhos.

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