#Vivasuapele Carolinne Macedo contra a gordofobia

#Vivasuapele Carolinne Macedo contra a gordofobia

Conversamos com Carolinne Macedo, de Tocantins, sobre padrões de beleza, gordofobia e sobre a inclusão nas políticas públicas.

Foi durante a parada virtual da Turnê Sallve em Tocantins que conhecemos a Carolinne Macedo, militante contra a gordofobia que nos leva a refletir ainda mais sobre os padrões estéticos e sobre o que cada um de nós pode fazer. Será que esse peso da gordofobia é alimentado somente pelas imagens midiáticas? Ou somos nós, indivíduos de uma sociedade, que contribuímos para que essa aversão ou desprezo pelo gordo ganhe força? A reflexão é sempre válida e a Carolinne está aqui para nos levar a repensar o que podemos mudar ao nosso redor.

Contra a gordofobia

A Carolinne tem um discurso muito importante de militância. Em um de seus stories ela fala: "Não basta não ser gordofóbico, tem que ser anti gordofobia". E essa frase nos faz parar pra pensar: o que pode fazer quem nunca sentiu a gordofobia na pele mas que não quer alimentar um sistema de padrões e de crueldade?

"O mundo é feito para os magros! Se tem um conselho que eu posso dar para alguém que não quer alimentar os padrões é esse: reconheça seus privilégios. Nós vivemos numa sociedade que acredita fielmente que magreza e beleza são sinônimos. Eu entendo, é difícil mesmo tirar esse conceito da cabeça, nós somos ensinados a todo momento que engordar é um fracasso. E construções sociais tão enraizadas como essas só podem ser quebradas com apoio. Apoie seu amigo gordo, inclua pessoas gordas no seu ciclo de amizades, empregue pessoas gordas, valorize pessoas gordas em todas as esferas. Dê espaço para que os gordos possam ocupá-los. Não pode um corpo grande chamar tanta atenção e ao mesmo tempo ser tão invisibilizado. Por isso que eu digo, não basta não ser gordofóbico, é preciso ser antigordofobia e pra chegarmos nisso é preciso não reproduzir o preconceito, discutir sobre gordofobia, abrir espaços e algumas vezes até se indispor com algumas pessoas para mostrar que isso está errado", nos ensinou a Carolinne.

Normalizar a palavra gordo

A Carolinne explica que mais do que ensinar as pessoas gordas a se amarem, a se sentirem bem consigo mesmas, é preciso inclui-las em todos os âmbitos da sociedade. Um exemplo disso é uma catraca de ônibus, que pode ser um obstáculo diário na vida de um gordo. Aliás, um outro ponto que a Carol deixa bem claro (assista a série Militância nos stories em sua conta no Instagram) é que ela não é gordinha, fofinha, cheinha, grandinha, ela é gorda. Ponto. "Nós precisamos normalizar o uso da palavra gorda. Porque gordo não é xingamento, não é demérito, não é depreciação. Gordo é só uma característica".

Pressão estética x gordofobia

"Pressão estética é a opressão que todos nós vivemos para atingir o padrão de beleza, onde precisamos moldar à crença do inconsciente coletivo de perfeição. Mas sabemos que não existe perfeição, ele só existe nos nosso imaginário. No entanto, toda essa pressão faz a gente se sentir constantemente insatisfeito, pois estamos sendo pressionados para buscar algo inatingível. A pressão estética pode ser driblada por meio da autoestima e do amor próprio. Quando você se ama e se aceita, você sofre menos com essas interferências externas. Quando uma pessoa sofre gordofobia ela perde acessos e direitos, é vista como doente. Autoestima não resolve os problemas da gordofobia. Amor próprio não nos garante direitos", explica.

É claro que a pessoa gorda precisa de autoestima, precisa ser empoderada, para que ela possa sobreviver na sociedade gordofóbica. Mas a pessoa gorda precisa ainda mais de políticas públicas que garantam uma vivência em sociedade. Que garantam que a pessoa gorda consiga comprar roupa, consiga um emprego, consiga acesso no hospital, consiga caber na cadeira do cinema, do avião, consiga passar na catraca e não seja ridicularizada apenas por ser gorda.

Carolinne Macedo

A inclusão de corpos reais na moda

Há exatamente um ano, em novembro de 2019, as asas das angels da Victoria's Secret não subiram na passarela. Não foi uma estratégia de marketing, foi uma demarcação de um mercado que se viu obrigado a repensar a sua imagem. Falta muito ainda para a moda oferecer escolhas para todos os corpos. Mas vemos uma transição que começa a ganhar forma.

"Acredito que está havendo sim um movimento de mudança no mercado da moda, mas ainda há muito a ser conquistado. Visto que grande parte da população é gorda, não há explicação para que o mercado de moda plus size não seja visto como promissor. No entanto, marcas que atendam numerações grandes ainda são minoria no mercado. Além disso, ainda temos muita gente magra produzindo roupa para gordos. Ainda temos muitas modelos padrão representando corpos gordos.
O corpo gordo ainda é encaixado como “cota”. Lojas de departamento estão se movimentando para atender numerações maiores, mas ainda é algo muito restrito, isso faz a pessoa gorda ter que consumir roupas de lojas especializadas. Lojas de moda plus size constantemente repassam ao consumidor o produto com um valor muito alto e isso reduz o consumo, visto que nem todos podem pagar altos valores para se vestir bem. É preciso que a indústria da moda entenda que os corpos gordos precisam ter o direito de escolher o que vestir, para que possamos nos expressar verdadeiramente por meio da moda.

Os padrões na indústria da beleza

"A indústria da beleza, muitas vezes, reforça o padrão de beleza inatingível e contribui para que criemos em nosso imaginário estereótipos e padrões estéticos. Mas há no mercado marcas que nos mostram que é totalmente possível gostar de beleza e cuidar da nossa imagem sem que essa tão almejada beleza seja uma ditadura que penaliza".

Cuidar do corpo, da pele, da imagem é também autocuidado e algumas marcas tem se atentado para o fato de que existe beleza em todos os tipos de corpos.

Carolinne Macedo

"Eu sempre me preocupo em consumir produtos de marcas que se preocupam em incluir diferentes tipos de corpos em suas produções de marketing, e que essa escolha não seja apenas para surfar na onda da inclusão. Eu busco um equilíbrio: não é sobre demonizar a indústria da beleza mas sobre entender que de alguma maneira ela permeia nossa vida. Mas é sempre preciso refletir, para que esse cuidado não seja excessivo, para que ele aconteça de maneira positiva, sem fazer com que a gente se odeie a cada minuto ou queira a todo momento estar mudado aquilo que não gostamos".

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