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Cicatrizes de acne: fazendo as pazes

Mariana Inbar fala sobre seu relacionamento de quase uma vida inteira com suas cicatrizes de acne e como não deixar as marquinhas destruírem sua autoestima.

Foto: Mariana Inbar

É engraçado, mas eu não consigo me lembrar de uma época na minha vida em que eu não tivesse meu rosto marcado por cicatrizes de acne. É como se elas sempre tivessem estado ali - a tal ponto que, quando vejo uma foto da minha primeira comunhão, aos dez anos, com a pele lisinha, eu mal me reconheço. Acho estranhíssimo (e chego a pensar: você era feliz e não sabia!).

Minhas cicatrizes de acne - que tenho há pelo menos uns 20 anos - são decorrência, claro, de anos espremendo qualquer espinha que ameaçasse brotar no meu rosto. Eu ia contra o conselho de absolutamente todo mundo - de mãe, tias e professoras a dermatologistas - de que espremer seria muito pior. Foi mesmo. As espinhas foram embora, mas as cicatrizes ficaram.

Meu relacionamento com elas já passou por diversos estágios: já morri de ódio delas, já as ignorei e já tentei cobri-las com base pesadíssima e pó compacto a qualquer hora do dia - numa guerra de braço que eu, claro, não saí ganhando. A maquiagem tinha que ser retirada em alguma hora e eu ia me deparar com elas de novo (fora o sufoco que era ir para festivais de música debaixo de um calor infernal com base opaca pesadíssima no rosto. A conta, definitivamente, não fecha).

Acho que tudo começou a mudar quando comecei a me cansar de bases pesadas e opacas demais, e quis começar a fazer as pazes com minhas marquinhas. Este estágio levou tempo: aos poucos comecei a procurar bases mais levinhas e viçosas, depois fui me interessando por iluminadores aplicados em pontos bem específicos do rosto. Um bom batom vermelho também tirava meus olhos das minhas cicatrizes. Assim, com o passar do tempo, meu rosto maquiado não ficava radicalmente diferente do meu rosto sem maquiagem, como acontecia antes. Aos poucos, comecei a me dar conta de que, mesmo quando estava sem maquiagem, não me pegava pensando em como minha pele estava ruim ou marcada demais. Talvez porque, mesmo maquiada, minhas cicatrizes ainda estavam ali - embora, confesso, com um aspecto melhor. Disfarçadas, mas não apagadas. E tudo bem também.

Essa foi a maior revolução na minha relação com as minhas cicatrizes de acne: quando cheguei no ponto em que, mesmo com elas visíveis, estava tudo bem. Eu preferia não tê-las? Óbvio. Gosto de disfarçá-las? É claro. Sempre pesquiso novos produtos e tratamentos que podem ajudar a diminuí-las? Evidente. Mas cuidar delas e da minha pele foi o que mais surtiu efeito nessa longa jornada de lidar com o fato de que elas estão ali e, pelo menos enquanto não opto por um tratamento mais pesado, saber que elas não vão embora.

Se eu tivesse que pensar em um único benefício de uma rotina de skincare consistente e informada na minha vida, fatalmente seria o fato de que foi ela que me fez, finalmente, abraçar a minha pele como ela é: cicatrizes e tudo. O ácido glicólico aliado ao ácido salicílico foi das minhas descobertas mais recentes e mais eficazes, melhorando muito não só o aspecto das minhas cicatrizes como a textura da minha pele. Desde que comecei a sentir esse efeito, aliás, venho gostando muito mais de usar maquiagem, descobrindo bases ainda mais leves e viçosas, o blush cremoso, um corretivo pontual... A maquiagem passou a ser mais um carinho do que uma ferramenta de disfarce. As duas são válidas, e tem vezes que eu peso a mão mesmo, mas porque estou com vontade, não por necessidade que me vejam de tal forma (ou que não me vejam de tal forma).

Cicatrizes de acne são chatas. São eternas também, se você não tem como fazer um tratamento mais pesado. Mas o primeiro passo para que te incomodem menos é você olha-las objetivamente, entender que elas são parte de você e que há tantas maneiras de lidar com elas sem sofrer tanto. O segundo é você parar de se preocupar com o que os outros estão vendo. Quando você vê com mais clareza, até a forma de disfarçá-las fica mais sutil. Tem dias que você vai detestar, tem dias que vai estar tudo ótimo. Entender isso também é crucial - afinal de contas, quem é feliz o tempo inteiro?

Nosso relacionamento com a nossa pele não é uma via de mão única: é um diálogo. A gente faz daqui, ela responde de lá, e vice-versa. Essa conversa às vezes fica tensa, rola uma discussão, mas no final das contas, precisamos fazer as pazes, e esse processo invariavelmente vai partir de você. Lidar com cicatrizes de acne é um processo de fazer as pazes com a sua pele. Você sempre vai melhorá-la, mas o dia a dia fica menos pesado. Ainda mais com um bom batom vermelho. ;)

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