Foto: Jernej Graj/ Unsplash
Sofrendo de acne desde os 12 anos, décadas da minha vida giraram em torno de cobrir minha pele e deixá-la sempre o mais mate possível. Qualquer tipo de brilho no meu rosto nunca foi bem vindo. Eu usava loção rosada por baixo de qualquer base para cobrir qualquer sinal de espinha ou cicatriz de acne, eu ia no banheiro da boate de hora em hora retocar o pó compacto - matificante, claro.
Depois, organizando melhor minha rotina de cuidados com a pele, era mais ou menos assim: sabonete facial - matificante. Tônico - matificante. Hidratante - matificante. Base? Opaca e bem pesada. Até o dia em que fui passar as férias no Rio de Janeiro e levei duas bases na mala: uma bem viçosa e outra bem opaca. O que era para ser uma experiência de qual era melhor para o clima úmido e quente da cidade se tornou um daqueles momentos A-ha! que a Oprah tanto fala.
Testando as duas bases e percebendo que a base de acabamento iluminado durava muito mais tempo no calor do Rio, cheguei à conclusão de que o que acontece com tantas de nós brasileiras é uma verdadeira luta de braço com algo que jamais vamos conseguir vencer: o clima local. O que a gente tem que fazer é se adaptar e não tentar mascarar tanto o que é inevitável.
Abraçar uma pele viçosa, para mim, teve três passos: o primeiro deles foi entender que o brilho da pele viçosa é completamente diferente do brilho da pele oleosa. O segundo foi quando fiquei grávida e minha pele ficou um verdadeiro horror - seca, sem viço, sem cor, com acne ainda mais forte, com a textura ruim. Mais ou menos nessa época eu comecei a ficar obcecada com iluminadores e bases de efeito iluminado. Mas foi o terceiro passo que mais me marcou a longo prazo e mudou minha rotina de skincare: foi quando aprendi que não precisa apostar só em base viçosa e iluminador potente para deixar a pele com um brilho lindo. Eu podia trocar todos os meus cosméticos, pouco a pouco, e começar a me cuidar para deixar a pele hidratada e iluminada com saúde, não como um disfarce.
Desde que comecei a apostar numa rotina de cuidados com a pele mais focada em um aspecto saudável e viçoso, o impacto que senti foi enorme: sem neurose, fui enxergando melhor e sem rodeios a textura da minha pele, convivendo melhor com minhas cicatrizes de acne e aprendendo, pouco a pouco, como ela responde a qualquer novidade, além de firmar toda uma nova relação com a maquiagem - que passei a curtir muito de um jeito todo novo.
É claro que essa ressurgência de uma fixação com a pele super mate tem a ver com a era das selfies: "As pessoas se preocupam em como vão aparecer na foto. E na foto, para você fazer um viço bonito, tem que saber maquiar, ou fica com aspecto oleoso mesmo. O pessoal hoje em dia quer é tirar foto, fazer vídeo no YouTube, e o que fica bem no vídeo? Pele seca", já me explicou a maquiadora Laura Peres, que acredita que é preciso ensinar as mulheres a cultivar e maquiar uma pele viçosa para que isso se torne mais natural e menos tabu. Mas gente, a vida existe é além da lente da selfie. Na verdade, é além dali que a vida existe mesmo pra valer.
Um hidratante que controle a oleosidade da pele, ou até mesmo um tônico, são sempre bem-vindos, mas é quando a gente para de firmar um duelo com o que a nossa pele está querendo dizer que a gente a enxerga para valer. Por sua vez, quando a gente se enxerga, a revolução interna, mais do que externa, é sensacional.