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Kidcore: a nostalgia como resposta a tempos de incerteza

Olhos coloridos, presilhas de borboleta, nostalgia de seriados e desenhos animados... Conheça a tendência que tomou conta do TikTok.

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Foto: Instagram @babyleska

Uma vez li uma matéria sobre millennials que dizia que nós somos uma geração muito responsiva à nostalgia porque o intervalo de tempo entre os anos 80 e 2000, quando vivemos nossas infâncias, foram muito marcados por obsolescências: não temos mais hoje em dia muito do que conhecíamos na época. Um ótimo exemplo disso é a forma como consumimos música, que até o começo da década de 80 ainda era principalmente por vinil, até passarmos pra fita cassete, compact discs e depois MP3/mídia digital. Em cerca de vinte anos conhecemos a vitrola, o toca-fitas, o rádio portátil, o discman, os disquetes, o MP3 player, os flip phones, e por aí vai.

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Claro que esse é apenas um recorte, mas como um todo, muitos dos símbolos que fizeram parte integral do nosso imaginário quando estávamos crescendo sequer são fabricados hoje em dia, fazendo com que uma conexão profunda seja estabelecida quando uma pessoa que viveu todas essas mudanças se conecte com algo do passado.

Em quarentena, encontrei uma alegria muito especial em me reconectar com séries que eram muito importantes pra mim há anos, agora com novos olhos. Rever "Sailor Moon", "Sakura Card Captors" ou "Buffy a Caça-Vampiros" nos dias de hoje é revisitar um espaço de familiaridade, quase como de amizades antigas, só que com novos significados. E é nesse contexto de isolamento e de uma busca por conexão com aquilo que nos traz conforto e familiaridade, que movimentos como o Kidcore têm influenciado cada vez mais a maneira como nos expressamos nas redes sociais.

O movimento Kidcore

O movimento faz parte do que é entendido como uma aesthetic (estética) nas redes sociais e tem encontrado uma base significativa de aderentes no TikTok. De acordo com a YouTuber cybr.grl, diferente de um estilo de moda ou arte, uma estética não é limitada a um único meio de apresentação: trata-se de um tema que conduz toda uma composição de signos.

No caso do Kidcore, estamos falando da incorporação de signos (sejam acessórios, roupas, decoração, cores, etc.) que remetam à infância e aos anos 90. A utilização de adesivos, miçangas, roupas em cores saturadas e afins são marcas registradas da proposta, especialmente no ambiente da moda. Em tempos de incerteza em que a realidade protagoniza muito do nosso psicológico e humor, incorporar elementos lúdicos na própria maquiagem, look, decoração ou até em filtros de Instagram é como montar possibilidades de se transportar a um ambiente de criatividade e alegria, mesmo que por um segundo.

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Eu percebi que cada vez mais essas referências estéticas têm me chamado atenção, até mesmo antes de eu saber que elas foram batizadas, e algumas marcas brasileiras, como a Stay Ugly e a Mnisis já estiveram gradualmente tomando mais espaço no meu guarda-roupa. Além do aspecto da familiaridade, existe uma proposta de diálogo e de troca de referências no Kidcore que torna a comunicação quase uma parte inerente do movimento.

Ver outra pessoa incorporando símbolos dos anos 90/2000 em sua linguagem pessoal que também podem ter sido importantes para você ou feito parte da sua história é uma forma de iniciar conversas num momento em que elas não são tão fáceis de construir, estando cada pessoa em seu espaço individual.

O Kidcore tem sido adotado por pessoas de diversas idades e em vários graus diferentes, não precisando haver um comprometimento absoluto às cores saturadas para propor uma conversa sobre o passado e o presente. Dessa forma encontram-se novas maneiras de alegrar um pouco dias que pedem por escapismos mais oníricos e menos literais.

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