Medidas online que salvam a autoestima offline

Medidas online que salvam a autoestima offline

Carol Figueiredo bate um papo com Luana Carvalho e a nutricionista Isabela Mota sobre retoques e novas leis que os cercam nas redes sociais

Autoestima é algo que intriga profissionais da saúde mental muito antes das redes sociais estourarem. É uma problemática que envolve a vida das pessoas desde sempre, mesmo de o conceito ser consolidado. Com o aumento da exposição que vivemos constantemente por conta do meio digital, esse cenário se acentuou. Pare pra pensar: se antes nós nos comparávamos com mulheres de corpo padrão nas revistas, agora em apenas um clique ou atualização de feed, somos bombardeadas com "corpos perfeitos". 

Se colocarmos em números aqui, de acordo com uma pesquisa feita pela Secretaria de Saúde de São Paulo, 77% das meninas paulistanas entre 10 e 24 anos têm propensão a possuírem transtornos alimentares, e 85% dessas meninas acreditam que existe um padrão de beleza imposto pela sociedade. Um número bem alto, não é? 

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Trazendo para o âmbito online, sem muitas vezes pedirmos ou procurarmos, chegam aos nossos celulares imagens não muito realistas de como nós deveríamos ser, de acordo com um padrão de beleza imposto. Somos apresentados a um estereótipo de beleza e estilo de vida que não é facilmente alcançável. Isso é de imenso prejuízo na nossa caminhada até o autoamor. Pensando nisso, algumas medidas já estão sendo tomadas.

O Pinterest - rede social que tem como intuito ser um quadro de inspirações, em que os usuários podem compartilhar e salvar imagens - proibiu anúncios com texto ou imagem sobre perda de peso. Essa mudança tem como objetivo evitar a noção de padrão de corpo perfeito. Além disso, as novas regras também proíbem idealização ou depreciação de certos tipos de corpos. Que bom! 

"Nenhum tamanho é universal" - essa foi a frase que a rede social escolheu para abrir o post que anuncia a mudança nas suas políticas de uso. Uma verdade necessária. 

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Conversei com Luana Carvalho, influenciadora digital, ativista body positive e minha amiga pessoal, sobre como essas mudanças impactam no uso da internet. De acordo com Luana, medidas como essa ajudam demais na luta contra o body shaming - em tradução livre, vergonha do corpo.

"A medida é de extrema importância e veio em um momento muito oportuno: durante esta pandemia que estamos vivendo, tivemos uma mudança coletiva de corpos, já que ficamos a maioria do tempo dentro de casa. Além da mudança corporal, a gordofobia e pressão estética aumentaram muito - com o aumento do uso das redes sociais, principalmente", afirma Luana. 

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Além do Pinterest, algumas outras medidas estão sendo tomadas. Na Noruega, por exemplo, foi criada uma lei que torna ilegal que influenciadores compartilhem imagens retocadas de seus rostos ou corpos sem a devida sinalização de que as fotos ou vídeos foram editados. A iniciativa é um esforço para conter a distorção da imagem corporal no país. Imagina se os outros países se inspiram nessa ação? 

"O Instagram também inseriu em uma de suas abas a opção de denunciar posts por incentivo a transtornos alimentares. As redes sociais estão se conectando, e isso beneficia todo mundo. Muita gente achou bobagem e desnecessário, mas a longo prazo isso tem um impacto muito positivo", comenta Luana. 

+ Por trás dos Stories

De fato, muita gente acredita que isso tudo não passa de uma bobagem - "Mimimi" como dizem por aí. Mas de acordo com o Instituto Superior de Estudos Psicológicos da Espanha, a exposição às redes sociais provoca afastamento da vida real, ansiedade e redução da autoestima. Com medidas como estas, os impactos podem se tornar menores. Digo por mim, por exemplo. É exaustivo ter que driblar o algoritmo que insiste em me mostrar conteúdos de emagrecimento só porque eu procuro muito por conteúdos relacionados a exercícios físicos. Só que isso não significa que eu queira emagrecer, somente que gosto de me exercitar. E medidas como essa que o Pinterest tomou podem ajudar nessa luta. 

Além de atitudes vindas de um viés macro, podemos agir também como usuários. Conversando com a nutricionista Isabela Mota, com quem aprendo diariamente sobre nutrição humanizada, ela me deu algumas dicas de como lidar com as redes sociais que ainda não possuem essas regras: "Precisamos prestar atenção no que estamos consumindo. Com o aumento do uso das redes sociais, estamos mais expostos à internet. Temos que estar atentos e utilizar a internet de uma forma consciente, para que as coisas que nós consumimos não nos envenene aos poucos. Se a gente só segue pessoas que incitam esse ódio e sentimento de fracasso por nós mesmos, abre-se um quadro ansioso e depressivo. Uma dica muito importante: siga pessoas que te façam bem. Pessoas com corpos parecidos com o seu, que falem do mesmo lugar que você", diz Isabela, que trata a nutrição de forma real e gentil em suas redes sociais.

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Vamos seguir essas dicas, sim! Enquanto todas as redes sociais não se inspiram nas mudanças que o Pinterest trouxe ou os países usam a Noruega como exemplo, seguiremos fazendo nossa parte e torcendo para que medidas como essa e outras sejam tomadas, tanto nas redes sociais quanto fora delas.

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