Hoje em dia é impossível falar de beleza e skincare sem falar sobre redes sociais e hábitos tão intimamente ligados a elas. Beleza e cuidados com a pele são diretamente relacionados a autoestima e como a gente se enxerga (ou quer se ver) e, inevitavelmente, toda uma geração se espelha pelas redes sociais e lentes de selfies.
Quer ter uma ideia? Segundo estatísticas, 93 milhões de selfies são clicadas por dia. Na média, é estimado que um millennial tire 25.400 selfies ao longo de toda a sua vida. Os números são impressionantes e levantam uma pergunta bem pertinente. Se a gente se acostumou a se enxergar pelas lentes dos nossos celulares e a medir nosso valor pelo número de curtidas nas nossas redes sociais (levando até o Instagram a repensar a ferramenta), será que estamos mesmo tendo uma visão real de quem nós somos?
A pergunta é retórica, claro. A gente pode até ter a ilusão de que está se curtindo como nunca, se clicando como nunca, se conhecendo como nunca, mas na verdade estamos criando um padrão tão artificial que toda uma geração está crescendo com uma visão absolutamente deturpada de sua imagem. A afirmação é de Damian Hinds, secretário de educação britânico, que fez um apelo na última semana para que influenciadores assumam mais responsabilidade pelas fotos que postam em seus Instagrams.
"Hoje em dia há um filtro para tudo. Tanto que quando algo 'real' é postado, é tagueado com #nofilter. Mas deveria haver também o tag #notedited", pontuou Damian, em um evento contra o cyberbullying na Inglaterra. "Vamos tirar menos selfies, agir mais naturalmente, para combater a imagem corporal negativa", ele twittou após o evento.
Damian levanta um ponto importante: a gente vive muito no hoje, é muito imediatista. Mas não leva em conta que tudo isso que estamos plantando, compartilhando ou editando para postar está realmente moldando a forma como toda uma geração se vê e possivelmente vai se ver pelo resto da vida, afetando diretamente sua saúde mental.
Daí você pode dizer que "Ah, mas a geração dos anos 90 cresceu com aquelas revistas de moda recheadas de supermodels e vendendo uma ilusão que jamais seria a vida real de muitos de seus leitores". Crescemos mesmo. Mas a gente sabia que aquilo tudo era embaladinho em um glamour que só existia naquelas páginas, ilustradas com imagens que a gente sabia que tinham sido produzidas para um editorial ou capa. O grande perigo do Instagram é que ele vende ilusão como realidade, a superprodução como o padrão corriqueiro e espontâneo. E é isso que afeta a autoestima dos milhões de jovens que vivem suas vidas seguindo à risca as regras de um aplicativo.
Bullying não precisa ser comentário agressivo. Bullying pode ser um feed de Instagram fabricado aos mínimos detalhes e postado como verdade absoluta, ditando mesmo que subliminarmente como todo mundo deveria querer ser.
Será que nós estamos parando para pensar no efeito que tudo isso que estamos vivendo hoje vai ter em toda uma geração? Vou voltar lá para os anos 90, quando eu mesma sofria tanto bullying por ter muita espinha no rosto, o cabelo armado, volumoso e cacheado e o quadril largo - totalmente fora dos padrões da época, ou pelo menos da escola em que estudei.
Prestes a fazer 40 anos, eu posso afirmar: tudo o que eu ouvi naqueles anos tão difíceis me marcaram para sempre. Foram anos, décadas, até eu me enxergar perfeita (para mim!), até eu curtir minhas curvas. Será que se eu tivesse um celular apontado para mim, naquela época, alterando tudo o que eu via em mim e não gostava, para postar para todo mundo ver ia ajudar? Posso te afirmar que não.
Eu fui forçada a me enxergar. Foi duro. Mas o resultado, mesmo que "tardio", eu estou adorando viver. Tire suas selfies, poste nas redes sociais... Mas não viva dentro delas. Fora é muito mais legal, te garanto. Aliás, é fora delas que você se encontra ;)