Viver em um lugar quente tem os seus lados positivos e negativos. Listando os positivos, podemos pensar em:
1- Temperatura quentinha que aquece;
2- Bronze maravilhoso;
3- Aproveitar os dias ensolarados para pegar aquela Vitamina D e pegar o sol;
Mas confesso que essas coisas positivas viram negativas quando você tem vergonha do seu corpo e faz de tudo para cobrí-lo. Como pegar sol e deixar a luz quente queimar de forma positiva com diversos centímetros de camisetas e moletons quentes cobrindo a sua pele? Pois é. Foi assim durante a maioria dos anos da minha vida.
Em Serra Talhada, no interior de Pernambuco, faz sol na maioria dos dias do ano. Acredito que, por ano, tenham três ou quatro dias de chuva intensa. O restante é um solzão de rachar. E mesmo nos dias mais quentes do ano, eu fazia questão de estar sempre de camisa larga e de manga comprida. O principal motivo era porque, na minha cabeça, quanto menos pele eu mostrasse, quanto menos curvas ficassem salientes na minha silhueta, mais confortável eu estaria - não importando se eu estivesse morrendo de calor.
Lembro de estar na escola em mais um dia quente da minha cidade. Só que nesse dia específico estava quente demais. Não me importando se eu ia derreter por baixo do moletom, fui mesmo assim. Os meus colegas e professores já estavam acostumados a me ver com roupas grandes. No entanto, naquele dia em especial, não fazia sentido algum eu estar vestida daquela forma. Estava muito quente. MUITO QUENTE.
Acho importante dizer que eu tinha os meus 14 anos, 15 anos de idade. Por aí.
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Terceiro horário do colégio: quando chegava esse momento do dia - perto do intervalo - o sol ia esquentando, e a sala consequentemente ficava mais quente. De fato, eu não estava aguentando mais aquele calor sufocante. Como estava sentada no fundo da sala, tirei o moletom discretamente, esperando que ninguém olhasse para mim, e logo senti o meu corpo agradecer. "Obrigada por me deixar respirar hoje!", quase o ouvi falando. Estava meio nervosa, pois a qualquer momento o sinal ia tocar e a gente ia ter que sair para o intervalo, quando eu e meu corpo "desnudo" iríamos ter que encontrar pessoas - que na minha cabeça iam me julgar muito.
O sinal tocou. Saí da sala com o coração na boca e com muito medo. Respirei fundo. Lembro de ter saído da sala olhando para os meus pés, porque estava com medo de olhar ao redor e ver pessoas rindo e me observando com olhar de pena, mas esbarrei em alguém e então levantei o rosto. Comecei a olhar ao redor.
Ninguém estava olhando pra mim. Não do jeito que eu pensava que estavam.
Daí eu me dei conta de algo que me libertou e que eu levo no peito até hoje. Muitas vezes a gente acha que as pessoas estão nos olhando de uma forma rude, com um olhar de julgamento, porque é esse o olhar que nós temos sobre nós mesmas. Um olhar autossabotador e desleal, que na maioria das vezes as pessoas não possuem. Podem até ter, de fato, porque existem pessoas ruins e que nos julgam. Mas também existem pessoas que não ligam tanto para isso. E se ligam, a gente pode escolher não dar tanta relevância, porque no fim do dia, o que faz diferença em nossas vidas não é a opinião alheia sobre os nossos corpos e quem somos. Nosso valor não está medido pela visão que o outro tem de nós, e esse é um exercício diário que eu pratico todos os dias desde então.
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Óbvio que eu não virei a pessoa mais livre do mundo depois desse dia, mas essa inquietação foi essencial para o meu processo de autoamor e respeito com o meu corpo. Depois disso, comecei a me libertar mais. Não usava moletom, mas ia de casaquinho, que era mais fácil de tirar. Quando menos percebi, nem levava mais nada pra escola. E fiquei bem. Muito bem, por sinal. Sentir calor não fazia muito bem para o meu corpo, e quando eu finalmente o deixei respirar, foi libertador.
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Hoje em dia, me permito ir à praia e não me cobrir o tempo inteiro com malhas incômodas que cobrem o corpo inteiro. Uso biquíni, e permito que o sol beije minha pele. Claro que existem pessoas que reparam nas minhas estrias - que são muitas, que reparam no meu corpo volumoso, e isso incomoda. Mas pensa bem: vou deixar de viver, aproveitar o clima, deixar a luz bronzear o meu corpo, por conta de um olhar julgador de alguém que eu nem conheço? Não mesmo!
Gravei esse vídeo depois de um dia de praia, onde eu joguei frescobol com uma amiga totalmente de biquíni e percebi como isso foi uma revolução.
O seu corpo merece receber a luz quentinha e afetiva que o sol proporciona. No verão, no inverno, em qualquer estação do ano. Faz bem, revigora e te aquece. Aproveite.
E claro, não esquece do protetor solar, viu? :)