grandes gostosas avante

#grandesgostosas: Avante, sobre coragem, liberdade, e fazer bem mais do que reagir de cropped

Avante fala sobre vivenciar coragem, liberdade, mudança e autodescoberta, tudo no seu próprio corpo. Uma grande gostosa, literalmente.

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Quando você entra no perfil de Avante no Instagram, vai ler logo na bio: "A maior". E é, literalmente. Avante tem 2,03m de altura. Suas pernas são vertiginosas, e ela posa como se fosse a dona e proprietária da rede social inteira. Ou melhor, falando como ela mesma conta que gosta: ela chega no seu feed chamando atenção: "Oi, tudo bem? Cheguei", ela brinca, se anunciando, sobre como gosta de chegar em qualquer lugar - notadíssima, no mínimo.

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Avante conta que começou a se apropriar de seu próprio corpo a partir do momento em que "saiu do armário": "Passei a adolescência inteira com a autoestima muito baixa, por ser muito magra e as pessoas sempre falarem muito do meu corpo. Mas desde 2017, quando comecei esse processo de mais entendimento sobre a minha personalidade e minha fluidez de gênero, comecei a ter essa vontade de me explorar mais". Ela diz que o primeiro passo foi mudar os cabelos - o que a levou a ver que ela poderia também mudar outras partes do seu próprio corpo, no sentido de colocá-las à mostra. Outro fator que a ajudou a ganhar autoestima e vontade de mostrar seu corpo? Suas tatuagens.

Se até então ela era apenas o Luís, foi nesse exato momento que nasceu Avante, batizada justamente pela tatuagem que ela exibe com orgulho na barriga: "Com a Avante, comecei a me tornar uma pessoa mais queer e fluida, comecei a usar roupas femininas. Peças femininas, aliás, serviram, depois de seu cabelo, como mais um gatilho para que ela se apropriasse ainda mais de seu corpo: "Quando comecei a usar roupas femininas, percebi que conseguia usar meu corpo para falar que estou aqui. Esse foi meu processo de desconstrução. Comecei a usar mais meu corpo, a me sentir confortável na minha pele, e hoje não consigo me ver se não mostrar meu corpo".

"Quando você está com seu corpo à mostra, você demonstra poder. É você inconscientemente falando 'Eu posso'".

Avante


Ao mesmo tempo em que Avante fala sobre o poder que as roupas femininas lhe deram e lhe dão diariamente, ela reflete sobre como a indústria da moda é muito mais confortável em fazer roupas que deixem o corpo mais à mostra para mulheres do que para homens. São padrões que existem, e que ela reconhece. "Não me tornei uma pessoa de gênero fluido por conta das roupas, mas isso me ajudou muito no processo. Hoje prefiro ir para uma balada de lingerie, com meu corpo a mostra mesmo, eu amo".

A liberdade de se apoderar da narrativa que você quer escrever para o seu corpo

A conversa logo se aprofunda nessa questão de liberdade. Tendo crescido em uma cidade pequena no interior da Bahia, criada por uma família tradicional e bastante religiosa, Avante conta que essa consciência corporal foi algo que ela jamais reconheceu nos seus mais próximos. "Nós pessoas de gênero fluido temos sim a liberdade de viver esses dois mundos - a parte masculina mais a vivência do universo feminino, e é muito legal porque a gente acaba não se prendendo a rótulos. Só tenho mais opções. Isso, por consequência, demonstra muita coragem. Porque você vestir uma roupa que vai expor seu corpo, mesmo sabendo que todo mundo vai te olhar e falar 'O que é isso? É um homem, mulher (cis/trans), travesti, o que é?'. Fica sempre essa incógnita, mas eu adoro provocar".

"Corpo também é provocação. Quando você mostra muito seu corpo, você ganha uma liberdade muito grande de se expressar, você transborda muita personalidade. Isso é muito libertador, porque é como se tivesse dizendo 'Eu posso'". 

Avante


Mas mostrar o corpo não é só celebração: "Há também a dor, especialmente quando você é muito exposta na internet. As pessoas te reduzem a um corpo e acham que você não consegue conversar sobre algo mais intelectual. Ninguém quer te ouvir. Já na questão social, você sofre muitas microagressões na rua. São olhares, são as pessoas dando risada de uma pessoa de dois metros usando cropped"...

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Sobre coragem

Na nossa série #grandesgostosas, a palavra coragem já foi citada algumas vezes, mas com uma noção quase de rejeição: não é coragem ir de biquini na praia se seu corpo está fora de um padrão que não faz qualquer sentido. Não é coragem usar a barriga de fora se você não tem cintura fina. Mas, para Avante, coragem tem uma dimensão diferente, e é justamente isso, coragem, que ela prefere que seu corpo transpareça: "A gente está falando de locais diferentes. Quando falo que prefiro que meu corpo comunique coragem, é porque ele é muito mais agredido no sentido de ser uma pessoa queer. As pessoas não entendem muito bem o que eu sou. Então rola muito esse questionamento. Eu quero sim que as pessoas me olhem e digam 'Caramba, como essa pessoa tem coragem de sair de casa de sutiã?' Porque essa coragem vai trazer liberdade, já que tenho que ter essa força para me tirar desse lugar de comodismo. Uma coisa puxa a outra".

Avante vai mais longe: "A questão da liberdade fica um pouco rasa na minha vivência, porque todo mundo é livre para usar um cropped. Na minha concepção todo mundo nasce com essa liberdade. A coragem é falar 'Eu vou usar sem me importar com os comentários'. Porque por mais que você seja livre, você vai sofrer agressões, você não fica ileso. Não é porque sou uma pessoa livre que não vou sofrer agressões".

"Coragem é estar sendo assediada e continuar aqui. Não vou deitar para ninguém. Todo mundo que é muito livre tem esse momento de opressão".

Avante

Faz sentido, quando Avante explica o significado por trás de seu nome: "Ele vem desse sentimento de seguir em frente, de ir à luta. Algumas pessoas Avante é uma palavra muito forte, que dá essa sensação de liberdade, dá uma ideia de movimento. Além de ser nome andrógino".

O que é ser uma grande gostosa?

Agora, do alto de seus 2,03m de altura, o que é ser uma grande gostosa? Ela responde prontamente: "É ser livre. Aqui é quando podemos falar de liberdade. É pensar 'Esse é meu corpo, me sinto muito bem assim e não me importo com a opinião alheia'. A gente joga todas as críticas de lado. E é nesse momento que me sinto uma grande gostosa - quando saio de casa com as roupas que eu quero, quando recorro a uma boa pele, e saio com as pernas hidratadas e gostosa de fora. Ser uma grande gostosa é ser ousada, disruptiva. As pessoas LGBTQIA+ passam muito tempo sem acreditar nelas mesmas, e quando falamos de gênero fluido, a gente também já é julgada assim - 'Como assim uma pessoa que é socialmente homem quer usar uma roupa feminina? Vou usar e vou ficar gostosa, quer ver? Eu vou e uso", ela desafia, rindo, bem segura de si. "Ser uma grande gostosa é essa ousadia. É um grande grito de liberdade ser uma gostosa e poder falar que você é gostosa". 

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Finalmente, ela termina, definindo perfeitamente o título - não só da nossa série, mas esse do qual tantos de nós nos apoderamos bem além de uma hashtag: "Ser uma grande gostosa não é algo exclusivo a mulheres. Eu mesma não sou uma mulher trans. Sou uma pessoa de gênero fluido que se define como queer, ou não binário, ou qualquer outro termo que você quiser usar. Mas não sou necessariamente travesti, apesar de respeitá-las completamente e saber de todos os entraves sociais. Mas ser uma grande gostosa é ser uma pessoa grande gostosa". 

Quem duvida?

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