Será que estamos ficando mais próximos com a quarentena?

Mari Inbar reflete se estamos mais próximos uns dos outros na quarentena ou se na verdade estamos apenas nos acostumando ainda mais com o virtual.

Foto: Hian Oliveira/ Unsplash

Ah, o xavão dos xavões: "a gente só dá valor ao que tinha quando perde". Nunca, em uma escala tão grande, a gente viveu tanto isso na pele. Depois de tanto tempo rindo de memes sobre como a gente se esconde quando alguém liga ao invés de mandar mensagem, ou de como é muito mais legal ficar em casa vendo televisão do que interagindo de qualquer forma com outras pessoas humanos, nunca sentimos tanta falta do contato humano.

Nossas mensagens de texto de Whatsapp logo viraram ligações em vídeo, que logo passaram de conferência de home office a happy hour obrigatório ou baladinha animada. Queremos ver nossa mãe todo dia, checar com a melhor amiga, mas mais ainda: começamos a querer saber como estão até aqueles com quem não falamos com tanta frequência assim. O que era antes uma pergunta que não esperava qualquer resposta, agora é sincera: "Tudo bem?" Esta mesma pergunta, por sua vez, nunca recebeu respostas tão honestas: "Ai, estou tão de saco cheio", ou "Hoje estou meio pra baixo..."

Será que precisava baixar um vírus tão perigoso para que a gente se desse conta do quanto estávamos afastados uns dos outros? Ou será que, mais do que nunca, só sabemos viver em sociedade se for via tela e contato virtual, e nada mais?

Prefiro ser otimista e achar que estamos sim, mais próximos. Queremos ver mais uns aos outros. Sentimos falta do cheiro, da presença física, de sair depois do trabalho e sentar na mesa de bar, de simplesmente estar ao lado do pai ou do namorado num domingo à tarde vendo filme. Dos lugares cheios, de todo mundo falando ao mesmo tempo...

Estamos passando por um túnel: vamos sair desta crise, inegavelmente, diferente de como entramos. Aquela vida toda que vivemos até o começo de março já não existe mais. Aquela existência já se tornou obsoleta. Vamos retornar ao mundo e às nossas rotinas e vidas sociais com percepções diferentes, raciocínios diferentes, desejos diferentes.

Tomara que a gente não se esqueça, porém, que superamos tudo isso porque o fizemos juntos. E que o que faz de nós tão humanos é justamente os outros tantos que estão ao nosso redor, iguais a nós. É uma delícia hibernar para maratonar um seriado. Mas mais delicioso ainda é saber que, quando aquela última temporada acabar, o mundo vai estar te esperando lá fora. Quentinho de calor humano.

 

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