Por: Tássio Santos
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Custando a encontrar um protetor solar que não me deixasse branco, passei os últimos anos me queixando do quanto o mercado brasileiro não contemplava minha negritude. Como todo bom youtuber, óbvio que isso gerou pautas e mais pautas no meu canal, onde outras pessoas negras puderam compartilhar da mesma dor! E talvez tenha sido assim que a Sallve me notou.
Eu lembro bem do dia que recebi uma mensagem da Sallve dizendo que Julia Petit queria conversar comigo. Era uma tarde de verão, o estúdio me esperava pra gravar e a cabeça ficou como? Curiosa!
Me perguntaram quando eu tinha agenda em São Paulo (eu ali ainda morava na Bahia) e, quando respondi que só em dois meses, quiseram marcar imediatamente um papo pela internet mesmo. Parecia urgente… O objetivo da reunião era um só: eles queriam ajuda pra criar o protetor solar dos sonhos! Eu já dava consultoria de maquiagem pra cor de base, corretivo… Agora protetor solar??? Topei mesmo assim!
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Chamei algumas seguidoras e nos encontramos em um espaço pra inicialmente conversar sobre fórmula, textura, FPS, comunicação… Essa foi a primeira collab da Sallve, acredita? Mas agora vem o mais legal: ao passo que a gente ia falando sobre o que queria no produto, uma palavrinha aparecia na roda: autocuidado.
É questão de saúde!
Eu sei que o desgaste da palavra autocuidado pode ter dado um sentido frívolo ao termo, mas a gente não pode esquecer que proteção solar é uma questão de saúde da pele! E eu acho muito sintomático ser justamente esse produto de cuidados faciais a principal queixa da comunidade negra. Ora, se a pele negra também precisa passar protetor solar, por que as marcas não desenvolvem um produto que contemple esse público? Não seria essa manobra, em certo nível, uma forma de negligenciar a saúde da população negra?
Aqui no Brasil, o câncer de pele continua sendo o mais comum segundo o INCA. E nos Estados Unidos, um estudo publicado na revista Archives of Dermatology revelou que pessoas negras sofrem com maior intensidade a forma mais grave do câncer de pele, o melanoma acral. Comparado a outros grupos étnicos, a população negra de lá tem uma taxa de sobrevida menor também. O estudo ainda explicou como identificar esse câncer em quem tem mais melanina, um assunto que precisa de mais espaço na medicina brasileira porque nem todas as doenças de pele se apresentam da mesma forma em todo mundo.
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Se for fazer, faz bem feito!
Como eu falei, eu já trabalhava dando consultoria de maquiagem antes desse convite da Sallve. Quem me segue, sabe que existia um padrão: a consultoria era sempre para consertar um produto mal feito.
Era como se as maquiagens pra pele negra não precisassem de empenho, sabe? Como se a gente não merecesse coisa boa, poxa! Colocavam qualquer coisa pra vender e depois me chamavam pra corrigir se não tivesse legal. Mas com a Sallve não foi assim! Eles queriam começar bem e me colocaram na fase inicial do projeto. Foi ali que eu percebi que o pessoal estava realmente comprometido em entregar um bom produto.
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Várias conversas, muitos testes e dezenas de vai-e-volta de protótipo pro laboratório depois, eis que ele está entre nós: o protetor solar dos sonhos. Nessa jornada, vale ressaltar que eu não vivenciei a síndrome do negro único, pois conheci outras pessoas negras comprometidas e preocupadas com a experiência que todos teriam com o produto! Ana Sofia, você vai longe!!!
Dois anos após a primeira colab, eu pensei até que tivessem desistido do projeto, porque muitos outros produtos foram lançados primeiro, mas como diria Joice na emocionante resenha que fizemos no quadro #OTomMaisEscuro: “melhor demorar do que lançar de qualquer jeito!”
Sallve, agora falta meu óleo!