Aprendi com a minha pele mas levo pra vida

Aprendi com a minha pele mas levo pra vida

Mariana Inbar conta como sua relação com sua pele acaba espelhando tanto da sua jornada de vida também.

Outro dia ouvi a Tracee Ellis Ross falando sobre a relação tão intrínseca que ela tem com seu cabelo. "Poderia traçar minha jornada de amor próprio e autoaceitação pela minha jornada com meus cabelos", disse, em um tutorial de beleza para a Vogue americana. Sinto exatamente a mesma coisa quanto à minha pele.

Passamos por muitos altos e baixos (poderia apostar que muito mais baixos do que altos, mas os altos foram muito significativos). E é tão engraçado: eu não consigo me lembrar de quando minha pele não era coberta de espinhas e cravos, ali na adolescência.

A acne é uma constante tão forte na minha vida que sinto que ela estava presente mesmo quando não estava, sabe como? Parece que é impressa na minha pele mas muito mais profundamente impressa em como me enxergo.

Faz tempo que deixei de ver minha acne como adversária e sim como uma companheira de vida que eu só precisava entender melhor. Um traço meu. Minha pele é essa, e caramba, a gente já passou por tanto juntas que foi esquisito, por exemplo, nas fotos do meu casamento, quando ensaiei photoshopar minhas cicatrizes de espinha. Não era mais eu. Não era o que eu tinha vivido, o que tinha acontecido. Deixei elas ali. 

Perto de completar 40 anos, minhas filhas começaram a enxergar minhas cicatrizes: "Mãe, o que é esse monte de buraquinho no seu rosto? Dói? Coça?" Que engraçado que foi quando elas enxergaram minha pele. Ainda bem que não apaguei nada do meu álbum de casamento, né?

Agora, se for parar pra pensar nessa jornada da minha pele, é tão fácil enxergar tudo o que ela me ensinou: calma, paciência, disciplina.

Afinal de contas, tem algo mais imediatista do que espremer espinha? Passei minha adolescência ouvindo minha mãe me dando bronca porque eu cismava em espremer minhas espinhas e não cuidava da minha pele como deveria. Ela estava certa, claro.

Tenho muitas cicatrizes de acne no rosto - resultado da pressa em solucionar o que só precisava de paciência e o tratamento adequado. Mas tudo bem: aprendi que nunca é tarde para começar a se cuidar.

Hoje, com pouco mais de 40 anos, minha pele é outra: com menos ansiedade e mais e disciplina, ela responde aos tratamentos e me mostra volta e meia uma coisa legal - a textura mais uniforme, o viço incrível que o ácido glicólico ajuda a trazer de volta, uma nova textura que sempre tive medo de usar e que hoje funciona tão bem.

Muita coisa na vida a gente faz hoje pra só colher lá na frente. Por que é que com a pele seria diferente? 

Acho que, no final das contas, é questão de escuta, de observação. Enxergar minha pele como ela é me ensinou a me entender por inteiro também. Tem dias que isso é ótimo, e tem dias que é um saco. 

Mas ei... Quem disse que é facil? 

Voltar para o blog