Abaixo os padrões: quem precisa de asas mesmo?

Abaixo os padrões: quem precisa de asas mesmo?

O que o fim do desfile da Victoria's Secret diz sobre a queda de um padrão de beleza tão ultrapassado e opressor.

Foto: Ross Findon/ Unsplash

O que já estava previsto para acontecer há muito tempo finalmente foi confirmado ontem (21/11), para a surpresa de um total de zero pessoas: a Victoria's Secret cancelou seu desfile anual! Isso aconteceu depois do tsunami Savage X Fenty da Rihanna e de uma entrevista desastrosa do diretor de marketing da marca, Ed Razek, que conseguiu de uma só tacada atacar transgêneros, pessoas plus size, tudo junto. Para ele o desfile da Victoria's Secret "é fantasia".

E era justamente aí que morava o problema. Depois de anos e anos, as mulheres cansaram de comprar fantasia. Depois de tanto se falar sobre o efeito tão nocivo de padrões, os da Victoria's Secret caíram por água abaixo. Até aí tudo bem: houve quem se adaptasse, ou tentasse se sintonizar na conversa. A Victoria's Secret, este caso isolado e tão polarizante, fez questão de mudar o canal quando todo mundo já vinha avisando: as asas de angels já não nos seduzem mais. E mais: fantasia, ok. Mas de quem mesmo?

"No desfile da Victoria's Secret, as mulheres apareciam sempre embrulhadas para presente, como se fossem objetos mesmo. Isso sem contar o padrão. No desfile da Rihanna ano passado, a sensação era de mulheres celebrando o próprio corpo, curtindo suas próprias características. Os padrões contam muito nisso, mas o jeito como as mulheres estavam vestidas e como elas se comportavam em um desfile e no outro contavam muito essa história, era muito diferente", analisa Julia Petit.

Bom, basta citar aqui a Bella Hadid, que desfilou algumas vezes para a Victoria's Secret e este ano desfilou na Savage X Fenty:

"Foi a primeira vez que me senti muito sexy em uma passarela. Porque da primeira vez que fiz Fenty, estava fazendo outros desfiles de lingerie, mas nunca me senti poderosa numa passarela de lingerie".

Mas o papo nem é sobre como as modelos se sentiam. O papo é sobre como essa linguagem de um padrão 100% baseado no olhar alheio ficou tão anacrônico. É muito louco pensar em como há alguns anos o auge do padrão de beleza, da sensualidade feminina, era um desfile em que tudo se baseava no olhar do outro (homens, sejamos diretos) sobre as mulheres. 

Em 2019, este ano que fecha uma década de tantas revoluções e tanto mar revolto, é bom pensar que finalmente estamos transformando o que era um monólogo em um diálogo, em que tantas vozes ensinam. Somos muitas, não cabemos em uma forminha de babyliss e fantasia de cowgirl, e nosso padrão de beleza se expandiu para que o olhar que mais importe, entre tudo isso, seja o nosso sobre nós mesmas. A gente está se amando, como nós somos. Esta é a revolução, sem opressão, com pé no chão. As asas a gente dispensa.

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