A pergunta passa muito longe do essencial ou de ser preocupação séria, mas você já parou para pensar como vão funcionar as lojas de maquiagem após a reabertura do comércio? Como que a gente vai consumir maquiagem em um mundo pós-pandemia?
Aqui onde moro, em Luxemburgo, o comércio reabriu nesta última segunda-feira (11.05), seguindo rígidas regras de distanciamento social e higiene - mas uma grande loja de cosméticos, especificamente, só reabriu suas portas hoje. Ao entrar no ambiente (para fins investigativos), porém, a pergunta que mais pairava pela minha cabeça era: mas para abrir assim, para quê abrir?
Se normalmente já me sinto em um filme de ficção científica quando preciso ir à rua e vejo todos usando máscaras cirúrgicas, entrar nessa loja e ver todo o seu mostruário de maquiagem (de absolutamente todas as marcas) embalado em plástico filme só piorou a sensação. Sim, todo o comércio segue rígidas regras de distanciamento social e higiene como já citei, mas um mostruário todo embalado por plástico filme transparente e vendedoras lhe alertando que você não pode encostar em absolutamente nada não me passou segurança: me passou ainda mais medo.
A loja, que vivia cheia, sempre movimentada não importava a hora do dia, claro, estava vazia. Um ambiente como este não é exatamente convidativo, é?
Lojas físicas de maquiagem têm um desafio enorme nas mãos: a experiência de comprar cosméticos é extremamente sensorial e visual. Você quer experimentar para sentir a textura da base (além de encontrar sua cor), você quer ver o tom do batom contra a sua pele. O vendedor que te aconselha geralmente está bem ali, do seu lado, lhe oferecendo passar o tal blush que você apontou. Como se vende maquiagem quando tudo isso sai de cena? E mais ainda: como passar absoluta segurança para o seu cliente?
A C.O. Bigelow, em Nova York, e a Saks 5th Avenue, que tem lojas espalhadas pelos Estados Unidos, trocaram seus mostruários e testadores por amostras individuais, que você pode experimentar em casa. Imediatamente, porém, vem em mente o problema de todo o lixo que esta prática inevitavelmente gera.
Na Sephora chinesa, segundo o Business of Fashion, todas as ferramentas de teste de maquiagem são higienizadas após cada uso e embaladas individualmente. Testadores, por sua vez, são higienizados a cada duas horas.
Há ainda a estratégia digital: testadores virtuais, daqueles que você posa na frente de um monitor e se vê toda maquiada com os produtos da marca, ou que te ajudam, com sucesso, a achar o tom perfeito da sua base sem precisar experimentar nada. Há gigantes da beleza que estão levando essa ferramenta até para os nossos smartphones, com filtros em redes sociais como o Snapchat. Mas base, que já apareceu como exemplo duas vezes aqui nesse post, é mais que cor: é a textura, é a durabilidade, é se ela vai acumular nos seus poros... Um corretivo é a cobertura, além da cor. É a consistência na sua pele.
São muitas perguntas, e as respostas minimamente efetivas ainda vão demorar para serem colocadas em prática além do mundo digital, em que marcas nativas já mostraram que não precisa testar tanto para emplacar um hit de beleza. Quando você já nasce falando essa língua, fica bem mais fácil se adaptar.
Uma coisa é certa: mostruários como conhecíamos até agora estão fora de cogitação por pelo menos um ano. De um lado, vamos ter marcas precisando repensar o formato e abraçar cada vez mais a experiência digital - o comércio online aqui ainda me parece a opção mais segura e visualmente interessante. Do outro, teremos nós, os clientes, tentando nos acostumar a consumir de outra forma. O que os dois lados precisam ter em comum? Calma e paciência. Vai levar tempo. Enquanto isso, melhor permanecer fechados, não?
Comprar maquiagem é um carinho com a gente, é para ser prazer, não ameaça. E tudo bem, a gente chega lá de novo - afinal de contas, nada como um clique do mouse ou tap na tela do seu celular (bem desinfetado).