Como a proibição de filtros de beleza no Reino Unido conduz uma conversa sobre contexto

Filtros para publiposts foram proibidos nas redes sociais da Inglaterra, levantando uma boa conversa sobre nosso relacionamento com as redes.

Foto: @fayedickinsonx, que criou o filtro que mostra lado a lado seu rosto com e sem filtro

Em julho de 2020, duas marcas inglesas de produtos para bronzeamento artificial foram advertidas pela Advertising Standards Authority (órgão regulador de propaganda no Reino Unido) por compartilhar vídeos de influenciadoras mostrando o efeito de bronzeadores enquanto usavam filtros que deixavam a pele mais uniforme e bronzeada ainda - além de não condizente com os efeitos reais dos produtos em questão.

A ASA julgou que, como os filtros estavam diretamente ligados ao desempenho dos produtos, as propagandas eram enganosas, aproveitando para reforçar regras de boas práticas envolvendo criadores de conteúdo de beleza. Tudo isso levantou muitas conversas sobre o assunto.

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A dependência de filtros nas redes sociais

Filtros são uma criação relativamente recente no ambiente digital e já formam uma parte gigantesca das nossas interações nas redes sociais - algo que não é inerentemente negativo, mas o nosso uso indiscriminado deles (especialmente os que nos “embelezam”) têm consequências visíveis na forma que enxergamos os outros e, principalmente, a nós mesmos.

Eu percebi o quanto era dependente de filtros quando troquei de celular em 2018 e a alta resolução da câmera evidenciava quase todas as minhas inseguranças. Com isso, fui percebendo um declínio grande no meu compartilhamento de selfies e registros no geral, pois sempre que ligava a câmera, eu precisava respirar fundo.

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Quando comecei a criar conteúdo sobre beleza no Instagram, eu entendia como uma prioridade minha reverter esse quadro e fazer as pazes com a minha imagem não-editada, mas entrei em outro pacto com as minhas inseguranças ao entender que, se eu não fosse usar filtros, teria que ser naturalmente a imagem da perfeição.

É por isso que, quando me deparei com a notícia sobre a proibição de filtros de embelezamento da ASA para fins comerciais, eu a entendi como uma discussão principalmente em torno do espaço dos filtros em nossos ambientes digitais, mais do que uma condenação deles como um todo - e isso fez sentido pra mim.

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Dado o cenário das nossas redes, nem todas as pessoas se sentem confiantes o bastante em suas jornadas de autoaceitação a ponto de se registrar sempre de cara lavada, enquanto alguns influenciadores grandes o bastante conseguem se dedicar a tratamentos estéticos que trazem um pouco desses filtros de embelezamento pra vida real. Então ainda estamos lidando com um território muito complexo de produção de símbolos de beleza. Considero a lei aprovada pela ASA um bom ponto de partida para conversas sobre o tema nas redes sociais, mas acredito que a nossa obsessão por filtros já estava predestinada antes mesmo da invenção deles: o buraco é muito mais embaixo.

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