Por: Brisa Issa (@brisaissa)
Difícil falar de liberdade, né? Tô eu aqui há quase duas semanas tentando pôr no “papel” o que esta palavra tão usada e urgente nos tempos de hoje representa pra mim. Céticos diriam até que ela não existe em sua plenitude (se pá! Estariam certos, vai saber…). Eu poderia ir para o lado político falando aqui do lema da revolução francesa e de como o atual governo ameaça de forma sutil algumas das nossas pequenas liberdades conquistadas, mas deixarei para os analistas políticos esta narrativa.
Poderia falar o quanto as redes sociais criam ideais que jamais serão alcançados porque na verdade a maioria dos perfis não passam de pequenos filmes hollywoodianos cheios de fantasias e efeitos especiais bem distantes da realidade de 99% do famoso “gente como a gente”. Deixarei este outro foco para os estudiosos da área comportamental.
Euzinha venho aqui para refletir sobre como notei que talvez eu tenha dois tipos de liberdade: a primeira é a “truezeira”, a liberdade raiz mesmo - e uma delas é quando eu deito e durmo. No sonho tudo é possível, você não tem olhar crítico bad vibes de uma pessoa X (mesmo que tenha, pouco importa! É sonho!). E você não tem as obrigações diárias! Meu, se você quiser você pode até voar, olha isso!
+ Vou te levar pra ver o sol
No campo físico, acho que a maior liberdade que podemos conquistar está em nosso corpo e em nós mesmos. O tal do “nosso corpo é um templo bla bla bla”, mas na verdade a única coisa que nos acompanha e que convivemos literalmente a vida toda é nosso corpo.
Hoje o que mais se fala é sobre a liberdade dele, da aceitação de quem somos (nem melhor, nem pior que o outro) e de se olhar com mais carinho. Quantas pessoas vivem aprisionadas em seus corpos, seja tentando se encaixar num padrão de beleza que vem sendo martelado em nossa mente há gerações; seja por não se ver no gênero que a sociedade diz que você tem que ter, pois sua fisiologia te fez assim (“então tá decidido! Você tem que ser isso e fim”)? Somos e podemos ser muito mais!!
+ O funcionário do mês: seu corpão querido
Eu e meu corpo travamos algumas lutas ao longo destes 38 anos. Seja com dietas (a minha primeira foi aos 12, quando foi a sua?), seja com o bullying na escola que fazia o “ser gordo” algo negativo e horrível. Seja no comentário “você tem um rosto tão lindo, se fosse magra…” acompanho de um pesar profundo. O mais doido de tudo isso é que quando vejo fotos minhas antigas, na verdade verdadeira, eu nunca fui gorda, eu só não era padrão. Quando esta ficha caiu, eu olhei pra meu corpitcho e pensei: bom, o que tenho para esta passagem de vida é minha bunda grande (e maravilhosa), meus peitos levemente (to sendo generosa hahah) caídos mas que são herança dos corpos das mulheres da minha família... Então é isso aí: meus braços do tamanho que eles são, a barriga do tamanho que é e o cabelo cacheado, esta sou eu. Meu ideal de beleza hoje sou eu mesma. Até porque nunca fui de “putz queria ter o corpo ou queria ser igual fulana”.
+ Medidas online que salvam a autoestima offline
“Nossa Brisa, parabéns pra você! Um ser evoluído risos” Calma, que não é esta maravilha toda não! Manter-me firme nesta visão de mim mesma não é tão simples assim, o dia a dia quase sempre me testa. Tem as mini lutas sociais (até que melhoraram) como, por exemplo, opções de roupas com grades de tamanhos reais, e algumas marcas vendo que calça para gordo não precisa ser com glitter no bolso. E que gordo pode usar mix de estampas e roupas mega coloridas e tudo bem, porque a pessoa quer e se sente bem assim.
Outra mini luta é silenciar o pensamento embutido na gente do “você não pode isso porque você é….” Complete aqui a frase. Eu completo com: gordo. Este aí acho que é o pior de todos! Eu, que me vejo como alguém que se aceita como é fisicamente (vide parágrafo anterior), várias vezes me peguei nesta armadilha que tenta sabotar a minha segunda liberdade que é “eu versus meu corpo”.
+ #Vivasuapele Carolinne Macedo contra a gordofobia
Há um tempo comecei a andar de bicicleta e me peguei pensando “caramba, será que eu não fico estranha na bike porque tenho a bunda grande, o banco é pequeno, eu tenho coxão, não sou exatamente…” Ali eu parei e pensei: “sociedade de m*rda que tenta me limitar”. Subi na bike e fui.
Escrevendo tudo isso aqui para, em resumo (ou não), dizer que a liberdade do nosso corpo é conquistada e construída ao longo da nossa vida. Ninguém é plenamente livre mas a gente pode chegar bem pertinho disso.
Lembre-se que no final mesmo, é você e seu corpo na hora de pagar os boletos, de andar por aí e quando você deita ali com cabeça no travesseiro.
Este tem sido o meu processo, qual é o seu?