Lembra de quando as pessoas escolhiam os destinos de suas férias baseadas em desejos pessoais, pontos turísticos que queriam conhecer, culinária ou programas infantis? Hoje em dia, você pode adicionar mais um item indispensável nesta lista que determina onde você vai carimbar o passaporte da próxima vez: o lugar tem que ser instagramável.
Não é novidade nenhuma, claro, que tantos de nós sonham em fazer as malas e ver com os próprios olhos as paisagens e monumentos mais lindos do mundo. Mas faz tempo que não basta só ver ao vivo: tem que ficar bonito no feed do Instagram e render Stories que sem dúvida vão virar destaque.
Entre os destinos instagramáveis mais populares do mundo está a Islândia. Mas se você pensa que a terra da Björk está comemorando o boom turístico por lá, está enganado. O comportamento de influencers no país, infelizmente, vem refletindo muito do mal que essa bolha de selfies e likes vem plantando na sociedade. A tal ponto que os próprios islandeses começaram a criar páginas no Instagram e no Facebook para denunciar o mau comportamento dos que fazem tudo pelo post perfeito. Coloque na lista: dirigir um jipe off-road quando a prática é proibida (por poder causar danos ambientais) e enguiçar no meio do barro, pular cercas, sentar em geleiras, voar drones por cima de cavalos ou até ficar à beira de um precipício para tirar uma selfie. A lista, porém, vai bem mais longe.
Além de denúncias online dos próprios cidadãos islandeses, cansados de ver a natureza de seu país em risco por causa de influenciadores irresponsáveis, o órgão de turismo Visit Iceland lançou diversas ações para divulgar a importância de respeitar o meio ambiente no país. Até o Ministro do Meio Ambiente islandês, Gudmundur Ingi Gudbrandsson, já se pronunciou sobre o assunto: "O comportamento inconsequente de alguém famoso pode impactar dramaticamente toda uma área se a massa seguir seu exemplo", disse à imprensa.
Em uma matéria sobre o assunto no site da BBC, o fotógrafo Pall Jokull Petursson traçou a diferença entre bons e maus usuários do Instagram. Para ele, quem realmente se importa com o meio ambiente e as paisagens do país faz questão de não taguear suas fotos ou dizer exatamente a localização de cliques postados online. Para assim, proteger os locais de uma horda de de seguidores (como aconteceu com o vulcão Fjadrargljufur, que foi cenário de clipe do Justin Bieber e, de tantos visitantes ávidos por selfies no local, foi fechado ao turismo).
A matéria da BBC se encerra com uma pergunta pertinente do fotógrafo Ben Simon Rehn: "Eu sempre me questiono, é sobre eles mesmos ou será que eles realmente se importam com o planeta e a natureza?"
Leve isso para qualquer outra área ligada às redes sociais e você vai ver que a pergunta não só se encaixa perfeitamente, como vai te fazer ver as coisas de outro jeito - até mesmo o seu relacionamento com você mesmo. Será que nos clicarmos e nos compartilharmos tanto como temos feito tem a ver com nos amarmos ou com a aceitação alheia e o desespero por se encaixar em um padrão?
É para os outros ou é para nós mesmos? Vale a reflexão.