Tudo bem não fazer nada

Mas vem cá: é quarentena ou ano sabático? Se desapegue desse tanto de listas de afazeres durante a pandemia e não se culpe tanto.

Foto: Marcela Rogante/ Unsplash

Quando entramos na primeira quarentena da pandemia, muitas listas de atividades começaram a ser divulgadas, com o intuito de te ajudar a passar por esse período com a cabeça no lugar. Vimos muitas ideias boas, mas com a profusão em massa delas, estas listas começaram a ficar um pouco opressivas, vai?

De repente, quarentena virou um checklist (competitivo) de todas as suas metas de vida: fazer cursos online, aprender uma nova língua, tocar um novo instrumento... Isso sem falar na lista de coisas que você pode (deve??) fazer com seus filhos neste período: brincar de mímica, transformar a casa em um circuito com fita crepe, inventar caça ao tesouro, ensinar xadrez, fazer uma peça de teatro, acampar na sala...

Vamos parar de nos cobrar, beijos.

Mas é quarentena ou ano sabático?

Porque parece que começou a rolar uma certa confusão aí. Nossas responsabilidades não continuam as mesmas - elas aumentaram: temos que conciliar home office com filhos e/ou casa, estágio com universidade/TCC ou seja lá qual for sua configuração e ainda arranjar um tempinho para nos exercitar - o mínimo que seja, para não cair no sedentarismo. Fora todo esse momento que estamos vivendo de uma pandemia e muita tensão no ar: uma simples ida ao supermercado virou uma ação que requer absoluta responsabilidade e preparação (eu sempre fico exausta!). Da porta de casa para a rua, nada mais é espontâneo. Então assim: calma, respira e pensa. "Peraí, produtivo para os padrões de quem?"

"Você só não está sendo produtivo para os padrões do mundo em que vivíamos há um mês atrás - e que já não existe mais."

Você fatalmente está fazendo muito mais do que fazia antes da pandemia começar. Só que você está se sentindo culpado porque nossa sociedade simplesmente instituiu o ócio (atualmente diretamente ligado ao conceito de estar em casa) como o oitavo pecado capital, quando o ócio é extremamente importante para a nossa cabeça - seja para ter ideias, para respirar a mente ou para acessar o que você está sentindo. Ou pra nada mesmo, qual é o problema?

Aliás, quem nunca ouviu falar sobre o ócio criativo, né? Aquele momento em que você está totalmente relaxado - tanto que você acaba permitindo que sua mente entre por caminhos que ela jamais entraria se você estivesse ali, sentado na frente do computador, esperando a ideia chegar.

Essa semana mesmo, a moda celebrou a volta de Alber Elbaz, um dos estilistas mais queridos de sua geração, e que foi demitido do cargo de diretor criativo da Lanvin em 2016, por pressões de um conglomerado que exigia muito mais do que deveria do israelense, que colocou a casa de volta no mapa. Foram anos até ele voltar, e quando ele voltou, uma de suas mensagens mais importantes foi: ele precisou se afastar completamente da moda para renovar sua mente, suas ideias, e pensar em algo novo.

Verdade, a gente não pode se dar esse luxo, mas se conseguirmos adaptar-lo para o nosso estilo de vida, a mensagem é simples: não fazer nada é importantíssimo para a sua cabeça também.

Tá tu-do bem!

Então assim, se depois de um dia inteiro de home office ou aulas em videoconferência você quiser sentar para aprender a tocar violão ou assistir uma aula de mandarim para iniciantes, vai fundo. Se não quiser, vai fundo do mesmo jeito.

Você não tem a menor obrigação de emitir diploma ou cumprir banco de horas em todos os momentos do seu dia. Faça o que você quiser do seu tempo que não está preenchido por obrigações que você já tinha antes da quarentena. E xô competição, opressão e essa ditadura da produtividade. Isso não acrescenta em nada. Eu diria aliás: acrescentar? Não, obrigada, a lista já tá enorme no básico, risos!

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