Quando entramos na primeira quarentena da pandemia, muitas listas de atividades começaram a ser divulgadas, com o intuito de te ajudar a passar por esse período com a cabeça no lugar. Vimos muitas ideias boas, mas com a profusão em massa delas, estas listas começaram a ficar um pouco opressivas, vai?
De repente, quarentena virou um checklist (competitivo) de todas as suas metas de vida: fazer cursos online, aprender uma nova língua, tocar um novo instrumento... Isso sem falar na lista de coisas que você pode (deve??) fazer com seus filhos neste período: brincar de mímica, transformar a casa em um circuito com fita crepe, inventar caça ao tesouro, ensinar xadrez, fazer uma peça de teatro, acampar na sala...
Mas é quarentena ou ano sabático?
Porque parece que começou a rolar uma certa confusão aí. Nossas responsabilidades não continuam as mesmas - elas aumentaram: temos que conciliar home office com filhos e/ou casa, estágio com universidade/TCC ou seja lá qual for sua configuração e ainda arranjar um tempinho para nos exercitar - o mínimo que seja, para não cair no sedentarismo. Fora todo esse momento que estamos vivendo de uma pandemia e muita tensão no ar: uma simples ida ao supermercado virou uma ação que requer absoluta responsabilidade e preparação (eu sempre fico exausta!). Da porta de casa para a rua, nada mais é espontâneo. Então assim: calma, respira e pensa. "Peraí, produtivo para os padrões de quem?"
Você fatalmente está fazendo muito mais do que fazia antes da pandemia começar. Só que você está se sentindo culpado porque nossa sociedade simplesmente instituiu o ócio (atualmente diretamente ligado ao conceito de estar em casa) como o oitavo pecado capital, quando o ócio é extremamente importante para a nossa cabeça - seja para ter ideias, para respirar a mente ou para acessar o que você está sentindo. Ou pra nada mesmo, qual é o problema?
Aliás, quem nunca ouviu falar sobre o ócio criativo, né? Aquele momento em que você está totalmente relaxado - tanto que você acaba permitindo que sua mente entre por caminhos que ela jamais entraria se você estivesse ali, sentado na frente do computador, esperando a ideia chegar.
Essa semana mesmo, a moda celebrou a volta de Alber Elbaz, um dos estilistas mais queridos de sua geração, e que foi demitido do cargo de diretor criativo da Lanvin em 2016, por pressões de um conglomerado que exigia muito mais do que deveria do israelense, que colocou a casa de volta no mapa. Foram anos até ele voltar, e quando ele voltou, uma de suas mensagens mais importantes foi: ele precisou se afastar completamente da moda para renovar sua mente, suas ideias, e pensar em algo novo.
Verdade, a gente não pode se dar esse luxo, mas se conseguirmos adaptar-lo para o nosso estilo de vida, a mensagem é simples: não fazer nada é importantíssimo para a sua cabeça também.
Tá tu-do bem!
Então assim, se depois de um dia inteiro de home office ou aulas em videoconferência você quiser sentar para aprender a tocar violão ou assistir uma aula de mandarim para iniciantes, vai fundo. Se não quiser, vai fundo do mesmo jeito.
Você não tem a menor obrigação de emitir diploma ou cumprir banco de horas em todos os momentos do seu dia. Faça o que você quiser do seu tempo que não está preenchido por obrigações que você já tinha antes da quarentena. E xô competição, opressão e essa ditadura da produtividade. Isso não acrescenta em nada. Eu diria aliás: acrescentar? Não, obrigada, a lista já tá enorme no básico, risos!