#vivasuapele: Arthur e a pele como transformação

#vivasuapele: Arthur e a pele como transformação

Uma jornada da pele que liberta e cria um vínculo incrível entre mãe e filho: vem que a história do Arthur é linda!

Por: Arthur Basilio

O universo do autocuidado nunca esteve presente na minha família. Dermatologista sempre foi médico de rico e sempre existiam ‘’problemas’’ maiores para resolver e prestar atenção do que cuidar de si mesmo. Esse ritual, portanto, nunca foi apresentado a mim - ele era restrito a um perfume gostoso depois do banho - e sempre foi algo ligado à feminilidade.

Na TV e revistas, esse sempre era o ritual de beleza do homem: uma barba bem feita e um bom perfume. Você não via os caras usando um protetor solar, um creme para a região dos olhos, nem via homens nessa posição. Nunca foi um assunto relevante que os cosméticos em geral têm dificuldades na eficácia na pele do homem, justamente por não penetrarem como esperado. A pele masculina é mais grossa, principalmente se falarmos do homem hétero cis, que nunca teve esse habito. Isso, porém, vem mudando, por incrível que pareça - as barbearias gourmet são a prova disso. Mesmo assim, é um cuidado reservado apenas para o cuidado a barba e cabelo. O cuidado com a pele do rosto/corpo ainda é uma ameça a masculinidade, creme no rosto só nas novelas ou uma apresentadora famosa em alguma propaganda.

No começo da adolescência, ainda perdido, estava começando a me entender como um cara gay quando descobri que existia um universo que me validava, que eu não estava sozinho, que tava tudo bem. E claro, teve ela, a puberdade. Nunca fui um garoto padrão, sempre fui gordinho, meu cabelo crespo, nunca fui de demonstrar tal masculinidade, então nunca me vi em nenhum lugar. Nunca me enxerguei, nunca me senti representado, e quando as minhas primeiras espinhas começaram a surgir, para mim era algo inaceitável. Mexia muito com a minha auto-estima, que estava começando a se erguer de alguma forma, e acho que o meu interesse pelo cuidado com a pele - comigo mesmo de um modo geral - foi o meu primeiro ato de liberdade.

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Comecei a cuidar da pele do corpo antes de começar com a pele do rosto - algo do qual sempre fui adepto, até porque eu moro numa cidade muito quente (refrescante, mas quente), e minha pele sempre foi diferente da pele das meninas, que era seca, e aquilo sempre foi algo que incomodava muito. Minhas referências de beleza eram as divas pops e a Julia Petit, com aquela pele de pêssego, e eu não aceitava menos. Até que eu comecei a descobrir o universo dos pedidos em revistas de beleza.

Sempre comprava produtos para peles oleosas e acneicas, que sempre foi o meu tipo de pele, e todas elas basicamente faziam a mesma coisa: tirar o máximo possível da oleosidade do seu rosto, deixando com aquela sensação de pele seca, que era "o sonho". O foco sempre foi fazer com que minha pele ‘’virasse’’ outra, e assim sempre foi estabelecida uma guerra contra a pele oleosa, que era o "pior tipo de pele". Havia aquela ideia de que ela nunca poderia ser bonita e saudável, que era nojenta pelo fato de produzir sebo em excesso e que você precisava fazer de tudo para mudá la - no caso, mudá-la para uma pele seca, porque a seca não produz oleosidade e não teria espinhas. Esse era o tipo de informação que eu tinha sobre o meu tipo de pele, então esse começo do cuidado da minha pele foi bem difícil. Eram produtos mega secativos me causando efeito rebote e eu sem entender. Fora a questão financeira, que era fator determinante.

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Eu não tinha condições de comprar produtos caros em farmácias. Produto para a pele do rosto sempre foram muito caros e algo super elitista, o que me fez quase acreditar que eu nunca ia conseguir respirar aliviado com a minha pele. Por muito tempo, tudo isso me fez sofrer e viver um conflito de: eu me adoro versus mas pelo visto minha pele não. Tudo isso até eu entender que eu estava só maltratando minha pele ao invés de cuidar dela de fato. E foi quando eu fiz as pazes com ela.

Hoje em dia percebo o quanto faltava transparência nos produtos, nas informações... Meus produtos eram basicamente secativos, e tudo que usei pra pele oleosa/acneica sempre foi mega secativo. Essa era a única forma que me era apresentada para "combater a pele oleosa". Mas descobri que não, que eu não precisava combater minha pele oleosa, e sim olhar pra ela com mais atenção. Precisava parar de projetar uma realidade que não existiria. Aprendi que limpeza e hidratação são fundamentais, que você que não precisa de 500 produtos para achar que só assim você vai ter uma pele que sempre sonhou. E na maioria das vezes essa pele sonhada é outra! Então é importante aceitar o seu tipo de pele, aceitar seus poros e cuidar com produtos de fato eficazes. Ah! E nunca dormir sem limpar bem o rosto. Aprendendo tudo isso, descobri a beleza na minha pele oleosa, e como ela pode ser controlada - nunca dominada - saudável e radiante.

No calor tudo fica um pouco desconfortável - tudo mesmo, inclusive os cuidados com a pele - e para quem mora em cidades em que é verão de janeiro a janeiro como a minha, que fica no litoral do Piauí (existe sim um período de inverno, mas ele é tão curto que pra gente não conta!), o desconforto é sim um dos principais motivos para maioria das pessoas não terem o hábito de cuidar da pele aqui no Nordeste: os produtos demoram para absorver e têm um sensorial pesado em textura. Aí a sensação térmica aumenta e junto com ela agonia de você estar grudento. Só que isso nunca foi visto como um problema, porque a pele do nordestino nunca foi uma questão paras marcas, assim como a pele negra.

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Os produtos tidos como brasileiros ainda era pensado para um brasileiro específico, e o Norte e Nordeste nunca dizeram parte desse nicho, até chegar a Sallve e dizer: nós estamos aqui por vocês também, nós acreditamos em vocês também, nós queremos ouví-los também. A Sallve nos mostrou de forma bem simples, eficaz e didática que todo esse desconforto sentido por anos não precisava mais existir. Que sua pele pode sim ser saudável, independente do tipo ou de onde você mora, e isso é muito precioso. Sinto a minha voz ouvida, a voz dos meus, vozes incríveis e que também transformam. Ver a quantidade de pessoas criativas que se identificam com você e você com elas, a troca sincera, o aplaudir a vitória do outro... Em que outro lugar você já se sentiu assim no mercado em geral?

Dar a devida importância a quem consome com amor seu produto em toda sua magnitude: esse é o futuro. Minha mãe nunca deu ouvidos pra mim quando eu dizia "usa aquilo, passa aquilo". Ela teve uma vida muito difícil, e se cuidar para ela era ter o que comer em casa, o que vestir. Ela sempre ouvia eu falar da Julia em casa, de coisas novas que aprendi lendo no Petiscos, e a primeira vez que eu vi minha mãe parando, olhando para ela no espelho e usando um creme, esfoliando o rosto, foi quando comprei meu primeiro kit da Sallve.

Em 55 anos, ela acabou absorvendo a minha empolgação de ter conseguido comprar, e eu disse para ela confiar, que ela não sentiria desconforto nenhum, que ela adoraria! Eu tenho isso registrado no meu coração, e desde então ela nunca mais parou. Todo dia à noite ela entra no meu quarto para usar algum hidratante, e aquele gesto tão simples e que dura poucos segundos é muito especial. É muito especial que a Sallve trouxe para ela, mesmo que em pequenos goles, uma auto-estima que ela achou que tinha esquecido, e que eu achava que tinha esquecido também. A pandemia nos aproximou num momento em que a gente estávamos cada vez mais distantes, e agora todo domingo a gente se junta pra fazer máscaras e cuidar das nossas peles juntos! Hoje aqui na minha cidade, a galera me chama de garoto Sallve, de tanto que eu prego a palavra. Quem sabe, pode ser transformador para eles também?

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