#Vivasuapele Gabriel Asafe e o autocuidado

#Vivasuapele Gabriel Asafe e o autocuidado

Uma conversa importante e urgente com o Gabriel Asafe sobre pele, skincare, autocuidado, homem negro e ruptura de padrões.

Foi durante o papo de pele e skincare da Turnê Sallve na Paraíba que o Gabriel Asafe nos contou que começou a cuidar mais da pele durante a quarentena. O movimento, aliás, foi geral no mundo todo! Mudamos drasticamente o nosso ritmo cotidiano, nos deparamos em muitos na realidade do home office, sem o tempo perdido entre locomoção casa / trabalho, com mais tempo para nós mesmos e com o espelho ali, na nossa frente. E os adeptos ao skincare cresceram exponencialmente neste período. Talvez, também, por vivermos em um momento de introspecção, de cuidarmos mais de nós mesmos.

O autocuidado na quarentena de Gabriel Asafe

Com o Gabe foi assim também, a quarentena da pandemia trouxe a rotina de cuidados diários para a sua vida.

"Eu nunca fui uma pessoa que tinha constância no assunto de cuidados com a pele, mas sabia que por minha pele ser seca eu precisava dar uma atenção ainda maior pra ela. E querendo ou não, para chegar em resultados legais a gente precisa manter essa constância. Entender um pouco sobre como sua pele funciona não é uma tarefa fácil e também não é impossível.
Eu saía de casa apenas para ir ao mercado (que era ao lado do condomínio), e não passava muito tempo lá também. Um pouco antes da quarentena eu havia perdido o emprego, e estava sendo engolido pela ansiedade quando em um dia qualquer acordei e decidi que ia fazer algo por mim e aí comprei uns produtos. Acredito que ocupar um espacinho de meus dias com essa dedicação de cuidar da pele foi muito essencial pra mim. Não que as crises tenham sumido, mas ter um ritual me ajuda a amenizar os efeitos negativos, sabe? haha".

"O amor por si vem de dentro pra fora", Gabriel Asafe

Foi durante a conversa da Turnê que o Gabe disse uma frase linda:

Eu amo olhar no espelho no sol e ficar me olhando altas horas, porque gente, o glow é tudo.

Gabriel Asafe

E ele conta que esse contato com o espelho é novo na sua vida.

"Eu já tive muito medo de espelhos. Hoje, ainda tenho, mas bem menos e é mais sobre um conjunto de eventos. Pra muitas pessoas de minha idade, o ensino médio foi um negócio assustador! É bem por aí mesmo e piora quando você é preto, gay e afeminado. Foram três anos passando por situações de extremo desconforto. Na faculdade, a realidade não é muito diferente, mas já sabia lidar com algumas coisas, porém, os desconfortos agora eram outros.
Falo muito sobre representatividade e sobre como é bom ver pessoas pretas ganhando o mundo. Foi por conta dessas representações que eu comecei a entender que o amor por si vem de dentro pra fora e que depois que a gente começa a se ver com outros olhos e de maneira positiva a gente consegue passar horas encarando o espelho e procurando, não por defeitos mas, por pontos interessantes para ser trabalhados de maneira positiva.

Eu não via beleza em mim, e hoje consigo perceber que é na minha pele que eu carrego meu bem mais precioso: minha identidade. Por isso eu consigo passar horas olhando o que ela reflete do sol. Pra mim é uma das melhores sensações acordar e ir direto receber luz natural!

Gabriel Asafe

Desmistificar os estereótipos

Os padrões estão ai, na nossa cara, o tempo todo. É a magreza, a pele branca que passa na frente da preta, a sensualidade sempre esperada de uma negra. O Gabe tem em seu Instagram uma fala muito marcante sobre o corpo do homem negro, que não precisa ser sinônimo de virilidade. E é tão importante a gente desmistificar esses estereótipos, é tão urgente.

"Nós, homens negros, somos postos em prova a todo momento, principalmente quando se trata de virilidade, e se não correspondemos ao aspecto viril do imaginário das pessoas logo somos taxados por muitos como inferiores. A objetificação do corpo negro é muito nítida, e está entrando cada vez mais em pauta, seja LGBTQIA+ ou não".

O homem preto foi privado de sentir dor, de chorar, da tristeza, e até mesmo da vaidade, e tudo é um reflexo da sociedade racista que sempre vivemos. Além disso, a conversa ainda vai mais longe quando pegamos os recortes que também são nítidos e começamos a questionar. O homem preto gay deve ser ativo; o homem preto hétero não pode rejeitar o sexo; a mulher preta só serve para satisfazer os prazeres do homem branco; o homem preto não pode deixar seu cabelo do jeito que gostar; a pessoa preta não pode ler livros e ter uma formação; e não para por aí, ainda existem vários exemplos que estão e devem ser discutidos pra ontem.

Gabriel Asafe

"Para mim, muito mudou quando aprendi sobre autodeterminação: NÃO PRECISAMOS PROVAR NADA A NINGUÉM. Então, não preciso ser o negro viril que a gente assiste em filmes americanos que algumas pessoas fazem questão de impor que seja. Eu também entendo que é muito difícil a gente conseguir pensar dessa maneira, é trabalhoso, e duro ouvir de pessoas – as vezes até as que a gente mais gosta – pontos sobre nossa aparência que elas não têm nada a ver".

Bem vindo, autocuidado

Se até aqui você ainda não segue o Gabe no Instagram, corre lá apertar pra acompanhar tudo. Ele produz um conteúdo lindo e o de autocuidado é uma mensagem tão essencial nesse período que a gente tá vivendo.


"Eu costumo dizer que falar sobre autocuidado é algo bem delicado. Meu jeito de falar sobre o assunto é sendo transparente e não enganando as pessoas. É muito triste o que vem acontecendo, com várias pessoas influentes na internet falando sobre algo que não são. Eu mesmo já tive experiências até mesmo com meus colegas produtores de conteúdo que estão começando que foram bem dolorosas ao perceber os personagens.
Algo que eu sempre faço questão de dizer é que “é normal não estar bem todos os dias!”, e fico bem feliz quando percebo a linearidade que as coisas vêm acontecendo em minha vida. No comecinho da conversa eu falei sobre o momento em que havia sido demitido e foi ali que me aproximei do autocuidado.
Quando eu trabalhava com eventos, minha rotina costumava ser bem louca e eu não tinha um tempo para refletir na quantidade de informações que eu recebia. Me distanciei de muita gente, inclusive de minha família, e no final me sentia completamente sozinho. Ter voltado pra casa de meus pais durante a quarentena foi a segunda chance que eu precisava para me reaproximar não só das pessoas que eu amava, mas também para entender um pouco mais sobre a vida e reencontrar meus propósitos.
Eu gosto de falar com pessoas para trocar experiências. Não sou a melhor pessoa para você seguir os conselhos, mas se você tiver um tempinho para ouvir o que eu tenho a dizer, pode ser que você consiga ter mais uma alternativa para seja lá o que for. E essa é minha missão como um produtor de conteúdo".

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