Quando a quarentena vira o cenário perfeito para mudar o visual

Instagram Thais Farage/ Reprodução

Como você vem lidando com a quarentena? Investindo em novos hobbies no tempo livre? Rearrumando sua casa como nunca antes? Refletindo sobre seus hábitos e como será o nosso futuro? Cada um vem encarando este período de distanciamento social de uma forma. É um momento tenso, sem dúvida, mas um de autoconhecimento também. Afinal de contas, estamos sendo obrigados a conviver intensamente com nós mesmos. E esta jornada pode ser maravilhosa.

Você pode adotar a ideia brincando com a maquiagem de forma mais ousada, buscando exercitar-se sozinho na sala... Ou, por que não, mudar o visual como sempre quis mas nunca teve coragem? É isso que uma turma enorme anda fazendo na quarentena: máquina em punho, chegou a hora de finalmente raspar a cabeça!

"Acho que é uma curiosidade que muitas mulheres têm", conta Joana Mendes, que raspou sua cabeça no último dia 23 de março. "Desde que raspei a minha, muitas mulheres vieram me dizer que morrem de vontade de fazer a mesma coisa mas não têm coragem", ela conta.

 

Instagram/ @joanagmendes

A preocupação com o trabalho

Joana sempre teve a mesma curiosidade: desde cedo ela riscou como meta raspar seus cabelos quando completasse 30 anos - usando a ideia como uma forma de ritual mesmo -, o que não aconteceu: chegou a data e ela estava curtindo o cabelão. "Também tinha medo que isso afetasse minha vida profissional", ela conta. "Como sou uma mulher negra, a sociedade nos impõe uma série de padrões do que ela acha que é uma mulher negra aceitável socialmente. Então sempre me preocupei com a reação das pessoas e o que falariam as pessoas com quem trabalho."

"A quarentena é um lugar seguro"

Foi assim que Joana pensou na hora de decidir, de fato, raspar sua cabeça. Foi só um corte de cabelo ficar curto demais quando a ideia era apenas aparar as pontas (quem nunca?) mais a ideia de que ainda passaríamos um mês trancados em casa para criar o cenário perfeito: "Se ficasse horrível, se eu não gostasse, tudo bem. Ia ter um mês para que o cabelo crescesse um pouco", ela conta.

"Raspar foi tranquilo. Tem essa coisa do nosso imaginário coletivo brasileiro: quem foi a primeira mulher a raspar a cabeça? A Camila da novela. Me lembro de ter visto uma entrevista com a atriz falando que não tinha chorado por causa de raspar o cabelo, mas sim quando se viu no espelho. Achei que isso fosse acontecer comigo". E aconteceu? Que nada! "Achei massa! Tinha vários medos, mas hoje vejo que tenho uma cabeça boa para não ter cabelo. Tô me achando até mais bonita do que me achava com cabelo."

"Acho que talvez seja um espaço que muitas mulheres negras fiquem bem sem cabelo. Temos várias fotos agora de mulheres negras que rasparam o cabelo, acho que temos um formato de cabeça bom para isso!", ri Joana.

Uma das sensações que ela mais gosta? Da água caindo direto na cabeça: "Me lembrou que todos nós fomos nenéns carecas!", brinca.

Joana conta que continua raspando a cabeça: depois de usar a máquina dois, ela pretende passar a máquina um. "Quem raspa a minha é minha namorada. Rola uns buracos, mas depois da quarentena vou num salão e raspo para ver. A gente não tem saído, então tudo bem! É um lugar que tá tudo bem."

Cabelo = feminino

"Ainda tem também o lado da gente atrelar muito o feminino ao cabelo. Também, por ser uma mulher negra, eu tinha que falar na escola quando era criança que meu cabelo não crescia igual ao das outras meninas. Eu nunca entendia porque meu cabelo não crescia pra baixo, e sim pra cima. Tem todo esse lugar do que a gente atrela a ser mulher. Querendo ou não, nosso padrão de beleza é europeu, que impõe isso na gente", conta Joana.

Quem também bate nesta mesma tecla ao falar sobre seu processo de raspar o cabelo é a Thais Farage. Ela deu o passo na última semana: "A gente vive em uma sociedade latina em que o cabelão é sinônimo de ser feminina, né?", conta a consultora de moda e sócia do núcleo Escola Madre.

Instagram Thais Farage

 

"Raspar a cabeça é se ver de outro jeito"

É assim que Thais define essa jornada pós cabeça raspada: "Ficar com cabelo curtíssimo é muito impactante (pelo menos foi pra mim). Mexe com a imagem que a gente tem da gente mesma, né? E mexe também com as roupas, os acessórios... O cabelo é a moldura do rosto, é o que a gente vê o tempo todo, mexe sem parar… Quando o cabelo muda muito, muda também o jeito de se expressar através da imagem. Eu fiquei com vontade de testar outros acessórios, chapéus, lenços… Muda também as sensações. É muito especial sentir a cabeça", conta. "Calor, frio, sol, água... Tudo isso gera sensações que, quando temos cabelo, não sentimos com tanta intensidade."

Ao apresentar seu novo visual no Instagram, Thais fez questão de deixar claro que a vontade sempre existiu: ela não estava em crise, nem entediada, maluca ou "Britney em 2006".

"As coisas fluíram. Estava muito cansada do meu cabelo, estava há tempos odiando a cor e não conseguindo mudar, estava enjoada da franja mas não conseguia deixar crescer. Além disso, cansei de secar, pintar, pentear, sei lá, cansei. E quarentena ainda, cabelo já ficando sem corte, chatice. além disso, eu trabalho com imagem, eu queria testar. Amei!"

Sobre se acostumar

Thais escreveu também, assim que raspou a cabeça, que ainda não tinha se acostumado. Será que já se acostumou?

Uma semana depois, ela afirma: "Acho que não vou me acostumar nunca!", ri. "Eu sinto que raspar a cabeça não é da ordem do acostumar, é se ver de outro jeito, mesmo, abraçar essa nova imagem. Eu tô curtindo. Não sei ainda quanto tempo eu vou ficar com cabelo raspado, quando vou deixar crescer, mas sinto que foi importante ter feito. Eu queria há muuuito tempo, demorei a ter coragem, e eu fico me olhando e pensando que é como se eu tivesse olhando outro lado meu, outra versão."

Quer raspar?

Thais manda na lata: raspa. "Se prepara, pensa com calma, pesquisa pessoas parecidas com você que tenham raspado o cabelo, mas raspa. O cabelo vai crescer e a gente precisa ter medo de outras coisas, de imagem não. Imagem é legal assim, para testar, experimentar, brincar, ser menos refém de ser bela. E dá pra ser careca e linda também!"

E muito bom humor!

Quem também usou a quarentena para arriscar com a máquina foi Oswaldo Basile, pai da Julia Prado, que faz parte do nosso time. Ele, no caso, arrasou num moicano. "Em tempos de quarentena, quis animar minha família - meus filhos, minha mulher e até meu gato." Se ele se arrepende? Óbvio que não: "Estou me sentindo o Ragnarok!"

Julia, por sua vez, conta para a gente, nos bastidores, que foi só seu pai maratonar "Vikings" em três dias para aparecer assim em seguida. "Ele sempre foi um palhaço, eis que na quarentena descobriu o mundo das séries. Maratonou vikings em três dias e na manhã seguinte apareceu com as laterais raspadas! Dia sim dia não ele vem com a gilete me pedindo ajuda pra manter o visual. Se nada der certo, viro cabeleireira!", ela ri. Precisa dizer que amamos?

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