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Juju ZL e a dança como grito de liberdade

A Juju ZL vive, respira, dorme e acorda dança. Aqui ela conta sua história incrível com seu corpo: de liberdade, autonomia e autodescoberta.

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"Eu saí do útero dançando", já cantava o Marc Bolan em "Cosmic Dancer". A música é de 1971, mas acredite: ela descreve perfeitamente a Juliana Andrade, muito mais conhecida e aclamada como a Juju ZL, do coletivo Batekoo e um dos rostos e vozes da campanha do nosso Hidratante Antiatrito. Juju não só vive da dança: ela vive para a dança - desde pequeneninha, na praia com a tia ou escondida no quarto puxando seu próprio bloco de carnaval - que, ninguém duvida, era o mais animado, disparado.

Sua história, ela conta, está relacionada com seu corpo desde sempre. "É que as pessoas sempre estiveram falando sobre meu corpo, desde que eu era muito pequena. Eu cresci pulando entre endocrinologistas porque era muito grande, era gorda, então minha mãe me levava em vários", ela começa contando sua jornada, relembrando um momento tão marcante que acabou gerando, dentro dela, um sentimento de paranoia com seu próprio corpo: "Eu estava indo para a escola, e no caminho minha mãe apontou para uma pessoa gorda na rua e perguntou se eu queria ficar daquele jeito. Ela não deve ter noção da importância e do peso disso, eu era muito pequena, mas nunca me esqueci. A grande ironia dessa história é que hoje meu corpo é parte do meu trabalho", ela emenda, com uma gargalhada, completando que tem problemas com assadura desde criança, "até por não ter roupa adequada para nada".

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Mas a Juju, a gente já avisa logo, é bem assim: uma reflexão, uma gargalhada e um caminho novo e incrível logo na sequência. As roupas que ela descreve como não adequadas, acabavam fazendo buracos nos mesmos lugares. E foi assim que ela aprendeu a costurar: para consertar suas calças e continuar usando. "Não tenho manchas comuns de criança que cresceu brincando na rua mas tenho um monte de mancha de assadura".

A menina dança

Foi mais ou menos aí que a Juju entendeu que não era só que ela gostava de dançar: "Eu a-ma-va dançar. E o que era para ser uma criança que era para ganhar vários concursos no Raul Gil virou uma adulta que dança". Quer ter uma ideia de como a dança foi dominando toda a vida da Juju? Ela dançava na praia, para onde a tia a levava para passar o dia, e obviamente, deixava todo mundo louco - como ela mesma conta: "Não esperavam aquilo de uma criança, muito menos de uma criança gorda. E eu dançava muito!" Já o samba ela aprendeu escondido, por sua família ser bem religiosa e não frequentar festas de carnaval: "A gente só escutava MPB e gospel. Como eu não podia pular carnaval, todo ano, nessa época, eu me escondia no quarto e ficava sambando. Daí quando queria aprender algum passo, como por exemplo mexer a cintura, ia em alguma loja, me escondia no provador que tinha espelho de corpo inteiro e ficava me vendo dançar".

Mas sabe aquela paranoia que a Juju contou ter com seu próprio corpo? Ela sempre conviveu com uma relação muito íntima e de cumplicidade: "Eu sempre amei meu corpo. Eu achava que tinha que não gostar de mim, e que tudo aquilo era um surto. Sabe aqueles programas de TV em que a galera vai para cantar e tem aquela pessoa que jura que canta bem e você fica assim... oi? Eu achava que era essa pessoa!", ela gargalha de novo. "Porque assim... Não é possível que eu seja feia. E, ao mesmo, tempo não é possivel que eu ache que eu sou bonita do jeito que eu sou, porque todo mundo fala o tempo todo que ser como eu sou é muito errado. Então talvez o problema seja eu, seja coisa da minha cabeça. Eu gostava do meu corpo, e acabaram me ensinando a odiar meu corpo".

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Apesar de tudo isso, a Juju faz questão de falar que sempre cresceu cercada de muito amor. "Eu fui criada com várias pessoas falando sobre como meu corpo não era adequado, mas ao mesmo tempo fui criada com uma família extremamente maternal, de mulheres fortes e próximas. Elas me diziam o tempo todo que a gente era bonita, que nossa pele era incrível porque era boa e linda porque era preta", diz Juju, lembrando dos dias em que todas se reuniam em casa para uma sessão de hidratação de cabelo, que acontecia todo mês: "Elas encomendavam tutano para todo mundo. Então, ao mesmo tempo em que cresci ouvindo que meu corpo não era o ideal, ouvia também o tempo todo que eu era linda.... Vai entender... é realmente distópico!", ri.

O período de insegurança existiu, a Juju faz questão de falar: "Eu nunca fui sempre segura não, quem me dera. Eu era tão anti-eu... Eu não tinha segurança para nada porque era a caçula da família. Então ninguém me dava voz. Eu também sou extremamente politicamente correta e muito medrosa. Essa coisa de ter tido uma criação bem cristã me deixou dez vezes mais receosa do que eu deveria ser, sou muito paranóica com certo e errado. Além disso, eu era uma criança que tinha o estereótipo perfeito para o bullying - preta, pobre, gorda e banguela. Ah, e usava óculos, ainda por cima! Eu realmente achava que tinha que odiar meu corpo e odiar quem eu era, e passei muito tempo me odiando e não sendo quem eu sou hoje".

Mas muito mais importante do que falar sobre segurança que transpira hoje, para a Juju, é falar sobre de onde ela veio: "Do autoconhecimento, é muito importante dizer isso". Mas autoconhecimento, para a Juju, tem suas nuances cruciais. "Hoje tem muita gente falando sobre autoestima, e falando 'eu sou muito boa'. Mas não é sobre eu ser boa, é sobre eu me conhecer. Porque autoestima nunca pode ser construída em cima de ego. Quando a gente está muito em cima do nosso ego, a gente não se enxerga nem enxerga os outros. E a minha maior preocupação enquanto influenciadora é que as pessoas saibam disso". Lembra daquele cantor que acha que canta bem e não canta nada? A Juju chama ele para o palco de novo: "Se eu embarcar nessa do ego vou virar isso!" Adivinha? Mais gargalhada.

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Ninguem é perfeito, todo mundo tem qualidades e coisas que não gosta em si mesmo. Todo mundo tem características e bagagens com as quais é difícil de conviver, então tudo que eu tenho comigo é um rolê de se pensar. Aprendi isso já adulta.

Juju ZL

"Autocrítica é necessário, se repensar é necessário"

Esse processo todo tão poderoso de autoconhecimento, quem plantou na Juju foi um professor de educação física do ensino médio, que insistia em dar aula teórica. Muitos alunos reclamavam, mas Juju adorava: "Eu tinha muita vergonha, porque toda vez era sempre a mesma coisa - eu entrava pra fazer o exercício, as pessoas me zoavam, eu não tinha roupa específica, ficava pensando, 'vou suar, feder', eu não conseguia". Nessas aulas teóricas, o professor apresentou à Juju o conceito de corporiedade - que pauta não só sua vida como seu trabalho, até hoje. "Ele ensinou que a corporalidade é a integração de tudo, que o corpo nunca está desligado da mente e que a gente tem que ter o conhecimento do nosso corpo. Foi quando comecei a pensar no meu corpo, a entender que não era só um cérebro. Foi essa sementinha que fez com que eu desenvolvesse a base do que eu faço hoje. A base do meu trabalho é corporiedade - entender essa ligação entre corpo e mente... E viver. Porque eu passei muito tempo sem viver".

A Juju, aliás, relembra sua escola como um campo fértil, que moldou muito de quem ela é hoje. Foi de lá que veio outro ensinamento, de outra professora, de que estudar era importante, mas sem jamais deixar de lado a vivência do que é ser adolescente: "Ela começou a citar mil exemplos, uma lista enorme de coisas que eu nunca tinha feito... Subestimam muito a escola na vida das pessoas", reflete.

Com tudo isso, ela chegou até aqui: trabalhando com dança, sua grande paixão, e com a sua voz, que ela sempre achou que deveria calar. "Eu, que achava que minha voz não importava, que meu conhecimento era pouco, eu que já me subestimei muito... É um sonho poder influenciar pessoas a serem elas. Porque não é sobre me imitar ou usar o que uso. O movimento é sobre uma pessoa se sentir inspirada ao ponto de pensar 'eu vou tentar'. O movimento é sobre isso. Você pode não gostar de dançar, mas você já tentou?"

Dance como se todo mundo tivesse olhando

Quando o assunto entra na dança (e não foi desde o começo?), Juju é rápida em definir a importância dela em sua vida: "A dança, em especial a Batekoo, me salvou muito", ela afirma. Foi na Batekoo, seu coletivo de dança, que lhe apresentou um conceito importantíssimo na sua vida: a liberdade de ser quem ela é. "A Batekoo foi o lugar em que entendi que tenho autonomia para ser quem eu sou, o que nunca senti em nenhum lugar. Eu nunca me senti livre, eu não tinha esse espaço para pensar, 'quem sou eu?' Onde que eu teria esse espaço? Dentro de casa dançando escondida? Nos rolês que eu ia, em que ou era chacota ou invisível? Eu queria dançar. Mas não me sentia segura em nenhum lugar. Eu queria usar as roupas que visto hoje, viver como eu vivo hoje, e não tinha um espaco seguro".

A dança proporcionou exatamente isso para a Juju: uma rede de apoio, e o espaço que ela precisava para florescer. "A dança me resgatou, porque aquele é um espaço em que eu não sou invisível, em que eu posso ser eu. A dança é fundamental para mim porque foi onde finalmente me encontrei e encontrei minha saúde. Foi o lugar que me fez parar de me questionar se eu estava doida. Parei de ter um conceito errado sobre mim, de achar que era errado me gostar, de achar que tinha obrigação de ser outro tipo de pessoa. Tudo isso foi através da dança". E o que é liberdade para a Juju? "É seguir seu instinto. Porque não é sobre não ter controle. É sobre o controle estar com você. É autonomia, acima de tudo".

Após traçar seus planos para o futuro (conquistar uma formação profissional de dançarina), Juju encerra o papo falando sobre música. Mais especificamente, a sua: "Autonomia", do Dead Fish. Ela jura que tem trecho que descreve sua vida, sem tirar nem por. Fui ouvir.

Ouça a música e dance como um louco buscando por autonomia
Deixe seu coração bater
Não sinta vergonha, feche os olhos, agora guie sem as mãos
Deixe seu coração bater

Dead Fish - Autonomia

E não é que é mesmo?

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